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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Prata da Casa: minhas mini-resenhas - Paulo Roberto de Almeida

A revista da ADB ainda vai demorar um pouco para sair, mas já preparei minhas oito mini-resenhas. Poderia ser mais, mas não recebi indicação de quantas páginas eu teria à minha disposição.
E poderiam ser livros mais recentes, mas confesso que o mais recente que encontrei foi um que ajudei a publicar, os dois volumes de Celso Lafer.
Os demais não são recentes, mas eles ficaram muito tempo na minha lista, sem que eu os tivesse resenhado. Vai ver que três ou quatro eram de "regimes" anteriores à diplomacia bolsonarista, da política externa lulopetista e um do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, todos eles de "esquerda", segundo os atuais mandantes do poder.
Em todo caso, são livros referenciais para a política externa e a diplomacia brasileira, e alguns estão livremente disponíveis na Biblioteca Digital da Funag.
Aqui seguem, para divertimento geral (menos de alguns, mas não se pode satisfazer a todos).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4/11/2019


Prata da Casa, 2019

Paulo Roberto de Almeida
 [Miniresenhas; Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XXI, n. 100, 2019, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)]

 (1) Lampreia, Luiz Felipe:
       Diplomacia brasileira: palavras, contextos e razões
       (Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, 420 p.; ISBN: 85-7384-043-0)

O livro está dividido em cinco partes: as cem primeiras páginas compreendem o seu discurso de posse, como primeiro ministro no primeiro mandato do governo FHC (ele ficaria quase até o final do segundo mandato, cedendo depois o lugar a Celso Lafer), discursos no próprio Itamaraty; a segunda, em mais de 150 páginas, é constituída por pronunciamentos em foros estrangeiros, no âmbito bilateral ou multilateral; a terceira é toda ela dedicada ao sistema multilateral de comércio, em modestas 60 páginas; finalmente a última, em 80 páginas, são discursos na ONU e em relação ao TNP, instrumento recusado durante 30 anos pela diplomacia brasileira, como discriminatório e desigual, ao qual aderiu sob críticas de militares e diplomatas o presidente FHC. O conjunto é um retrato muito fiel do que foi a diplomacia da era FHC, pelo seu principal executor.


(2) Amorim, Celso:
       Breves narrativas diplomáticas
       (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8)

Esta obra complementa a anterior, Conversas com jovens diplomatas (2011), que cobria suas preleções aos alunos do Instituto Rio Branco durante os oito anos à frente da diplomacia lulopetista. Desta vez são pequenas notas de alguns de seus maiores momentos no exercício de seus encargos diplomáticos, antes e durante aquele período, tratando da questão do Iraque, da Venezuela chavista, da implosão da Alca (que ele promoveu ativamente), das negociações da Rodada Doha, do Ibas, o grupo que foi criado no momento inaugural da diplomacia lulista, unindo o Brasil à Índia e à África do Sul, das origens frustradas da Comunidade Sul-americana de nações, que se transformou na Unasul (por manobras chavistas) e do reencontro com a África, visitada diversas vezes por Lula. Amorim ultrapassou os anos Rio Branco à frente do Itamaraty, mas ainda pretende voltar.


(3) Amorim, Celso:
       Discursos, palestras e artigos do chanceler Celso Amorim, 2003-2010
       (Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 2011, 2 vols.; 316 p. e 260 p.; ISBN: 978-85-60123-01-8)

Os dois volumes se complementam cronologicamente nessas três categorias, o primeiro cobrindo grosso modo o primeiro mandato, o segundo o mandato sucessivo. Como indica o título, trata-se de uma compilação da maior parte dos pronunciamentos oficiais do chanceler nos oito anos em que ocupou a cadeira ministerial, que se tornou especialmente ativa durante os dois mandatos do presidente Lula, com o qual Amorim se identificou pessoalmente e política, a ponto de ter aderido ao PT e promovido a figura do presidente em todos os foros abertos à projeção externa do Brasil, tanto os formais, estatais, quanto os de outros ambientes receptivos (sobretudo universidades e think tanks). Provavelmente, o grosso dos textos foi elaborada institucionalmente pelos profissionais da diplomacia, depois revistos pelo chanceler, à exceção dos discursos gravados e transcritos. Um retrato em grande estilo.


(4) Amorim, Celso:
       Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva
       (São Paulo: Benvirá, 2015, 520 p.; ISBN: 978-85-8240-171-2)

A despeito de suas 500 páginas de memórias, o livro do ex-chanceler comporta apenas três capítulos, que são os do título: a oportunidade supostamente perdida do acordo patrocinado pelo Brasil e pela Turquia para resolver o problemático programa nuclear do Irã – não resolvido em tratativas de vários anos pelos cinco membros permanentes do CSNU, mais a Alemanha –, o envolvimento do Brasil nos conflitos do Oriente Médio, sobretudo entre Israel e os palestinos, incluindo os vizinhos regionais, a frustrada, nunca concluída rodada de negociações comerciais multilaterais, que parecia prometer muito ao Brasil e seus aliados do G-20 comercial, mas que não conseguiu vencer as resistências dos protecionistas de todos os lados. As memórias são minuciosas, bem documentadas, embora o tom geral é obviamente de diplomacia pro domo sua, ou seja, provar a tese da excelência já antecipada.


(5) Danese, Sérgio:
       A escola da liderança: ensaios sobre a política externa e a inserção internacional do Brasil (Rio de Janeiro: Record, 2009, 278 p.; ISBN: 978-85-01-08595-5)

A obra é um manual de formação para diplomatas de alta qualidade, tanto no plano histórico – nela estão dois ensaios iniciais sobre a formação da diplomacia brasileira, seguida de um outro sobre a convergência histórica entre o Brasil e seus vizinhos da América do Sul –, quanto no terreno do conceito que dá sentido às suas reflexões sobre a liderança. Os capítulos centrais comportam, ademais de “algumas ideias sobre a liderança brasileira”, terreno sempre perigoso no contexto regional, nove ensaios sobre o aprendizado da liderança em política externa, com exemplos de estadistas famosos: Ted Roosevelt, Wilson, De Gaulle, Kennedy, entre outros. O livro termina com dois ensaios sobre a diplomacia presidencial – já objeto de uma tese diplomática que virou livro sob esse título – e com uma última reflexão sobre os paradigmas da diplomacia brasileira. Leitura indispensável aos jovens diplomatas.


(6) Lafer, Celso:
       Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira: pensamento e ação
       (Brasília: Funag, 2018, 2 vols., 1437 p.; 1º. vol., ISBN: 978-85-7631-787-6; 762 p.; 2o. vol., ISBN: 978-85-7631-788-3, 675 p.).

A obra em dois volumes reproduz meio século de ideias, reflexões, pesquisas, andanças e um exercício direto de responsabilidades à frente da diplomacia brasileira, em duas ocasiões, e, através dela, de algumas funções relevantes na diplomacia mundial, como a presidência do Conselho da OMC, assim como em outras instâncias da política global. Celso Lafer esteve à frente de decisões relevantes em alguns foros decisivos para as relações exteriores do Brasil, na integração regional, no comércio mundial, nos novos temas do multilateralismo contemporâneo. Ela representa um aporte fundamental para os estudiosos de diplomacia e de relações internacionais do Brasil, uma vez que reúne os relevantes escritos do mais importante intelectual desse campo, com a vantagem do autor ter tido a experiência prática de conduzir a diplomacia brasileira em momentos significativos da história recente.


(7) Almeida, Paulo Roberto de:
       Contra a corrente: Ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil (2014-2018) (Curitiba: Appris, 2019, 247 p.; ISBN: 978-85-473-2798-9)

Este livro reúne ensaios sobre diferentes temas da diplomacia brasileira escritos entre 2014 e 2018, divididos em duas partes: a primeira cobre o período final do regime lulopetista, sendo que 13º artigo desse primeiro bloco se dedica a  um “Epitáfio do lulopetismo diplomático”; a segunda parte se refere aos dois anos e meio do governo Temer, mas cobre também a campanha presidencial de 2018, e contém, por sinal, um capítulo sobre “Como retomar uma política externa profissional”, depois de algumas bizarrices do período lulopetista; um dos capítulos nessa parte trata do “poder do Itamaraty: o conhecimento como base”. Um apêndice traz um depoimento pessoal: “Auge e declínio do lulopetismo diplomático”, período no qual o autor não teve nenhum cargo na SERE. O título foi escolhido depois que o autor deixou a direção do IPRI, exercida de agosto de 2016 a março de 2019.


(8) Almeida, Paulo Roberto de:
       Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty
       (Boa Vista: Editora da UFRR, 2019, 165 p., ISBN: 978-85-8288-201-6: livro impresso; ISBN: 978-85-8288-202-3: livro eletrônico)

O livro não estava planejado, e sequer deveria existir, a não ser pelo fato de que ele foi composto inteiramente a partir das novas orientações da diplomacia brasileira, depois que seu autor foi exonerado do cargo de diretor do IPRI. Uma simples menção aos títulos dos capítulos permite desvendar o espírito com o qual o livro foi redigido, aliás rapidamente: Miséria da diplomacia, ou sistema de contradições filosóficas; O Ocidente e seus salvadores: um debate de ideias; O marxismo cultural: um útil espantalho?; A destruição da inteligência no Itamaraty: dialética da obscuridade; O globalismo e seus descontentes: notas de um contrarianista e A revolução cultural na diplomacia brasileira: um exercício demolidor. Ou seja, todo o livro pode ser considerado um longo comentário sobre a atual diplomacia, com a peculiaridade de que o arquivo em pdf está livremente disponível no site da Editora.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 junho 2019
Catalão, 4 novembro 2019

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Prata da Casa, fevereiro de 2017 a maio de 2017 - resenhas Paulo Roberto de Almeida

Um pouco atrasado, mas finalmente verificado, vou publicar a lista efetiva das resenhas publicadas na revista da ADB:

1266. “Prata da Casa, fevereiro de 2017 a maio de 2017”, Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XIX, n. 95, fevereiro de 2017 a maio de 2017, p. 36-37; ISSN: 0104-8503; link: https://adb.org.br/wp-content/uploads/2017/08/Revista-da-ADB-alta.pdf). Mini-resenhas sobre os seguintes livros: (1) Paulo Roberto de Almeida (org.), O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Editora Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0); (2) José Vicente Pimentel (ed.), Brazilian Diplomatic Thought: policymakers and agents of Foreign Policy (1750-1964) (Brasília: Funag, 2016, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-547-6); (3) Ives Gandra da Silva Martins; Paulo Rabello de Castro (Orgs.). Lanterna na proa: Roberto Campos Ano 100 (São Luís: Resistência Cultural, 2017, 340 p.; ISBN: 978-85-66418-13-2); (4) Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.): Visões da obra de Hélio Jaguaribe (Brasília: Funag, 2015, 135 p.; ISBN: 978-85-7631-539-1).  Relação de Originais n. 3107.

Aqui seguem os textos: 
 

Paulo Roberto de Almeida
 [Miniresenhas; Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XIX, n. 95, fevereiro de 2017 a maio de 2017, p. 36-37; ISSN: 0104-8503)]


(1) Paulo Roberto de Almeida (org.):
       O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos
       (Curitiba: Editora Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0)


            Roberto Campos foi, possivelmente, um dos maiores intelectuais brasileiros da segunda metade do século XX, com a peculiaridade de que, além de ser diplomata, se tratava também de um dos grandes economistas, homens públicos e estadistas, que dedicou sua vida a tentar salvar o Brasil de si mesmo, sem no entanto conseguir êxito na empreitada. Organizado por um diplomata que leu, ou releu, toda a sua obra, desde a tese defendida na George Washington University em 1947, até seus últimos escritos, passando pelas suas indispensáveis memórias, o livro também contou com a colaboração de outro diplomata, Carlos Henrique Cardim, que discorreu sobre a participação de Roberto Campos nos encontros internacionais da UnB, que ele também organizou. Paulo Roberto de Almeida traçou sua magnífica trajetória intelectual.



(2) José Vicente Pimentel (ed.):
       Brazilian Diplomatic Thought: policymakers and agents of Foreign Policy (1750-1964)
        (Brasília: Funag, 2016, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-547-6);


Diversos diplomatas colaboraram na empreitada: Synesio Sampaio Goes Filho (Alexandre de Gusmão), João Alfredo dos Anjos (José Bonifácio), Luis Cláudio Villafañe G. Santos (Duarte da Ponte Ribeiro), Luis Felipe de Seixas Corrêa (Honório Hermeto Carneiro Leão), Rubens Ricupero (A política externa da Velha República e o capítulo sobre o Barão do Rio Branco), Carlos Henrique Cardim (Rui Barbosa), Kassius Diniz da Silva Pontes (Euclides da Cunha), Paulo Roberto de Almeida (introdução metodológica e um capítulo sobre Oswaldo Aranha), Eugênio Vargas Garcia (Cyro de Freitas Valle), Guilherme Frazão Conduru (José Carlos Macedo Soares), Samuel Pinheiro Guimarães (Afonso Arinos de Mello Franco, Gelson Fonseca (San Tiago Dantas) e Ronaldo Mota Sardenberg (João Augusto de Araújo Castro).




(3) Ives Gandra da Silva Martins; Paulo Rabello de Castro (orgs.):
       Lanterna na proa: Roberto Campos Ano 100
       (São Luís: Resistência Cultural, 2017, 342 p.; ISBN: 978-85-66418-13-2)


Sessenta e dois colaboradores nesta outra homenagem a Roberto Campos, entre eles quatro diplomatas: Eduardo dos Santos (sobre a sua chefia, de 1974 a 1982, da embaixada em Londres), Paulo Roberto de Almeida (Bretton Woods, BNDE e receita para desenvolver um país), Rubens Barbosa (Um homem adiante de seu tempo) e Sérgio Eduardo Moreira Lima (“Bob Fields”: o estigma, o diplomata e os valores nacionais). Cada um deles desenvolve diferentes aspectos da vida, da obra e das atividades econômicas ou diplomáticas de Roberto Campos, sempre enfatizando seus ideais de liberdade, de economia de mercado, de reformas estruturais para arrancar o Brasil de uma situação de pobreza evitável para colocá-lo numa condição de prosperidade possível.




(4) Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.)
       Visões da obra de Hélio Jaguaribe
       (Brasília: Funag, 2015, 135 p.; ISBN: 978-85-7631-539-1)


Em homenagem feita pelos 90 anos do grande pensador do nacionalismo brasileiro, Samuel Pinheiro Guimarães analisou sua contribuição para a diplomacia, enfatizando a “notável atualidade nas ideias que [HJ] defendeu para a política externa”. Para “demonstrar” tal atualidade, destacou trechos do livro O Nacionalismo na Atualidade Brasileira, de 1958, indicando as similaridades com as políticas e posturas defendidas de 2003 a 2016 pela diplomacia brasileira, da qual ele foi um dos principais ideólogos. As mesmas oposições à época destacadas por HJ, entre o capital estrangeiro e o nacional, a autonomia ou a submissão ao império, a união da América Latina para “neutralizar o poder de retaliação dos Estados Unidos” (p. 89), seriam plenamente atuais (pelo menos para esse ideólogo). Como se queria demonstrar...

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Prata da Casa, Revista da ADB, 4to trimestre 2015 (atrasado, mas bonito) - Paulo Roberto de Almeida

Depois de certa confusão quanto à ordem de publicação das doze mini-resenhas preparadas para os dois trimestres finais de 2015, finalmente foram publicadas mais quatro no começo deste ano, com data de calendário de outubro-novembro-dezembro. Nesta ordem:


1205. “Prata da Casa, Boletim ADB – 4to. trimestre 2015” [Notas sobre os seguintes livros: 1) Sérgio da Veiga Watson: Reflexões de um civil sobre as Forças Armadas (Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN: 978-85-409-0355-5); 2) Abelardo Arantes Jr.: A passagem do neoestalinismo ao capitalismo liberal na União Soviética e na Europa Oriental (Brasília: Funag, 2015, 533 p.; ISBN: 978-85-7631-549-0; Coleção relações internacionais); 3) Vera Cíntia Álvarez: Diversidade cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade? (Brasília: Funag, 2015, 342 p.; ISBN: 978-85-7631-541-4; coleção CAE); 4) Benjamin Mossé: Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco) (Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-551-3); Revista da ADB (Brasília: Associação dos Diplomatas Brasileiros, ano 22, n. 91, outubro-novembro-dezembro 2015, p. 40-41; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n. 2864 e 2852.


(1) Sérgio da Veiga Watson:
Reflexões de um civil sobre as Forças Armadas
(Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN: 978-85-409-0355-5)


Como diz o título, se trata de reflexões, mas elas são absolutamente sinceras e feitas em tom coloquial, ademais de embasadas num vasto conhecimento pessoal, em leituras e pesquisas, com um rico suporte bibliográfico (e na filmografia) sobre o papel das FFAA no Brasil (e em países do Cone Sul), uma trajetória de alternância entre, de um lado, experimentos democráticos e governos civis, e golpes e governos militares, de outro. Sem esconder um viés antimilitarista e abertamente contrário à ditadura militar brasileira, o autor faz uma leitura honesta dessa complicada relação. O ponto final, dado no cinquentenário do golpe, convida as FFAA a, finalmente, reconhecer os lamentáveis excessos cometidos naquele período e a se desvincular dos torturadores. Um livro que demorou quarenta anos para ser escrito; deve ser saudado com uma bela continência.



(2) Abelardo Arantes Jr.:
A passagem do neoestalinismo ao capitalismo liberal na União Soviética e na Europa Oriental
(Brasília: Funag, 2015, 533 p.; ISBN: 978-85-7631-549-0; Coleção relações internacionais)


Curiosa esta tese de doutorado (UnB): nela se descobre que o socialismo surgiu por “deficiências do liberalismo no Ocidente”, que a contrarrevolução estalinista de 1923-27 traiu o marxismo-leninismo e os trabalhadores e está na origem dos eventos de 1989-91, quando a elite neoestalinista, numa espécie de conspiração para continuar no poder, efetuou sua conversão ao liberalismo. A tese é uma verdadeira revolução na história da Europa oriental e na do marxismo: a derrota do socialismo pode não ter sido definitiva e movimentos revolucionários de cunho socialista podem ser retomados; a elite neoestalinista usa malabarismos ideológicos para manter-se no poder, em aliança com a elite liberal. Mas seria o período pós-1991 marcado pelo “predomínio absoluto da hegemonia ocidental”? E será a Rússia pós-soviética um capitalismo liberal? Curioso...


(3) Vera Cíntia Álvarez:
Diversidade cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade?
(Brasília: Funag, 2015, 342 p.; ISBN: 978-85-7631-541-4; coleção CAE)


Diversidade cultural é um fato razoavelmente bem aceito atualmente, sobretudo em tempos e ambientes politicamente corretos. Livre comércio, por sua vez, já é objeto de controvérsias, alguns dizendo que não existe, outros sabotando-o deliberadamente, se por acaso existir. Os mesmos acham que a globalização mata a diversidade, impondo uma homogeneidade artificial. O subtítulo do livro já denota alguma dúvida sobre essa relação problemática, sobretudo no plano do sistema multilateral de comércio (onde o tema tem um estatuto muito ambíguo). A obra mapeia a questão, inclusive a “astúcia do poder econômico para perpetuar hegemonias” (p. 248), e parece que o perigo aqui vem das “pressões dos EUA” (quem diria?). Até quando o Brasil e os europeus temerosos vão continuar na defensiva, apelando para a Unesco e os amigos da diversidade?

(4) Benjamin Mossé:
Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco)
(Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-551-3; História diplomática)


Benjamin Mossé, grande rabino de Avignon, foi apenas a marca de fábrica, como se diz. O verdadeiro ghost writer desta biografia, menos ghost e mais writer, foi o barão, como já se sabia, e como destaca Luis Cláudio Villafañe em seu prefácio. A edição original do livro, de 1889, em francês, e a primeira edição em português (1890), encontram-se disponíveis na openlibrary. Mossé, sozinho, teria feito uma biografia medíocre, e altamente encomiástica, do seu amigo que estudava hebraico e a história judaica. O barão escreveu, não só uma verdadeira biografia do monarca, mas uma história completa do Brasil, incluindo Dom Pedro I e todos os problemas dos dois reinados do período monárquico: guerras platinas, escravidão, a emancipação gradual e a abolição, as viagens do imperador. Ainda elogioso, o barão, mas com bom conteúdo.

 
Ainda sobraram várias mini-resenhas de 2015 para serem publicadas, e já tenho várias outras no pipeline. Espero que a revista da ADB seja publicada no momento certo, inclusive para liquidar o estoque existente de miniresenhas.
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 17 de de fevereiro de 2016