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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

A Argentina se coloca voluntariamente como dependente de dois impérios - Román Lejtman (Infobae)

Apenas um país desprovido completamente de soberania, ou de simples orgulho nacional, aceitaria receber vetos de quem quer que fosse, como este: 

Argentina puede multiplicar su exportaciones con China -Beijing es el principal socio comercial de Estados Unidos-, pero Washington vetará acuerdos que impliquen ventajas estratégicas para su enemigo global. Por ejemplo: asuntos referidos a la seguridad, a las comunicaciones (5G) y a la energía (litio, centrales nucleares o represas hidroeléctricas)."

Acho que nem o Brasil do Bozo aceitaria isso, pois os militares não deixariam, mas nunca se sabe...

Paulo Roberto de Almeida

EL DIFÍCIL EQUILIBRIO DIPLOMÁTICO DE MASSA -ESTABILIZAR LA ECONOMÍA CON APOYO DE ESTADOS UNIDOS Y CONTENER LOS INTERESES DE CHINA EN LA ARGENTINA

 

A pocos días de viajar a Washington y New York, el titular del Palacio de

Hacienda enfrenta una compleja agenda exterior que está atravesada

por la disputa global entre Joseph Biden y Xi Jinping

 

Román Lejtman

InfoBae, 14/08/2022


Sergio Massa define un viaje a Washington y New York para obtener respaldo político a su plan de estabilización económica y alcanzar un puñado de inversiones destinadas a la energía, los alimentos y el litio. Sin el apoyo explícito de la Casa Blanca, el Fondo Monetario Internacional (FMI) y los bonistas más importantes de Wall Street, Massa estará en dificultades para cumplir con su ambiciosa agenda económica y financiera.

 

En DC se sorprendieron por la inesperada ofensiva de Xi Jinping que consiguió que Silvina Batakis firmará los avales definitivos para construir dos represas en Santa Cruz financiadas por tres bancos chinos y a continuación lograra que el embajador argentino en Beijing, Sabino Vaca Narvaja, calificara de provocación la visita de Nancy Pelosi a Taiwan.

 

Todo en 72 horas.

 

Massa llega al Salón Oval a través de Juan González, consejero de Seguridad Nacional de Joseph Biden para América Latina. González tiene trato fluido con el ministro -se hizo fan de Tigre por su insistencia- y ya han hablado de los intereses de Estados Unidos en la región y su rechazo al avance permanente de China en América Latina.

 

El ministro de Economía también conversó de este complejo asunto de política exterior con Marc Stanley, amigo personal de Biden y embajador de Estados Unidos en la Argentina. Massa y Stanley almorzaron la semana pasada en el Palacio Bosch, y los ejes de la charla calcaron el discurso geopolítico que se escucha en la Casa Blanca.

 

Esto es: Argentina puede multiplicar su exportaciones con China -Beijing es el principal socio comercial de Estados Unidos-, pero Washington vetará acuerdos que impliquen ventajas estratégicas para su enemigo global. Por ejemplo: asuntos referidos a la seguridad, a las comunicaciones (5G) y a la energía (litio, centrales nucleares o represas hidroeléctricas).

 

Massa llegará a Washington antes que concluya agosto y tiene audiencias previstas con Kristalina Georgieva -directora gerente del FMI-, Mauricio Claver Carone -titular del BID- y quizás con David Lipton, un economista muy influyente de la Secretaria del Tesoro. Será una gira corta que sólo incluirá DC y Manhattan.

 

“Al Club de París y a Qatar vamos a viajar más adelante. No podemos irnos muchos días. Todavía no acomodamos la economía”, confió un asesor de Massa que hace mucho que no duerme.

 

La gira por Washington y New York es organizada por Jorge Arguello -embajador argentino en DC-, Gustavo Pandiani -subsecretario para América Latina y el Caribe- y Marco Lavagna, titular del INDEC. Ellos acompañarán a Massa y no se descarta que se sume Silvina Batakis -como presidenta del Banco Nación-, Lisandro Cleri -vicepresidente del Banco Central- y el propio embajador Stanley.

 

Sergio Chodos, actual representante argentino en el FMI, no integraría la delegación oficial a Washington. Y su destino institucional está a merced de la decisión política de Massa.

 

El ministro de Economía, Sergio Massa, y Zou Xiaoli, embajador de China, durante un encuentro oficial en el Palacio de Hacienda

 

China tiene concedido a la Argentina un swap por 18.500 millones de dólares que están en el Banco Central. No se cuentan como reservas y se usan para financiar el comercio entre ambos países. Alberto Fernández y Massa no descartan una negociación con Xi que permita robustecer las reservas públicas con una cuota generosa del swap chino.

 

Pero Beijing desconfía de la seguridad jurídica de la Argentina y sólo sumará una porción del swap a las reservas si el Presidente y su ministro de Economía avanzan en la construcción de las centrales nucleares, permiten a capitales chinos comprar más reservas de litio y abren las licitaciones de 5G a las empresas de tecnología que están vetadas por la Casa Blanca.

 

El embajador de China en Buenos Aires, Zou Xiaoli, se reunió con Massa en el Quinto Piso del Palacio de Hacienda. Zou repitió su guión geopolítico y el ministro nunca se olvidó que Argentina está en el área de influencia de Estados Unidos.

 

Massa tendrá una ardua tarea en Economía. Necesita el respaldo político de Biden y contener la ofensiva de Xi. Una agenda internacional que es más difícil que mediar entre Alberto Fernández y Cristina.

 

Infobae 14 de agosto de 2022

 


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Fertilizantes: uma deficiência brasileira a caminho de reduzir a dependência externa - João Pedro Malardo (CNN Brasil)

 Alta de fertilizantes prejudica setor no Brasil, mas é oportunidade de expansão


Produção nacional corresponde a 15% do total consumido, e três empresas controlam mais de 70% do setor

João Pedro Malardo CNN Brasil Business
em São Paulo, 18/04/2022

A guerra entre Ucrânia e Rússia afetou os preços de uma série de produtos, entre eles os fertilizantes, com um impacto ainda maior para países que importam a maior parte do que consomem, caso do Brasil. Essa alta acaba refletindo nos alimentos, piorando o quadro inflacionário.

Atualmente, cerca de 85% dos fertilizantes usados no país são importados, e dados da consultoria Globalfert apontam que 23% desse total vem da Rússia. A Ucrânia também é um fornecedor relevante, assim como Belarus, que também está envolvido no conflito, piorando o cenário.

Especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business apontam, porém, que por mais que o setor de fertilizantes brasileiro deva enfrentar dificuldades no curto prazo, a guerra gerou uma oportunidade de crescimento ao deixar à tona uma vulnerabilidade do país.

Cenário brasileiro
Diretor-executivo do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert), Bernardo Silva, afirma que o setor de fertilizantes no Brasil possui hoje uma capacidade instalada de 13,95 milhões de toneladas por ano, mas produz efetivamente cerca de 6 milhões.

Segundo ele, existem alguns fatores que explicam essa diferença, mas o principal é a falta de competitividade dos projetos nacionais em relação ao exterior.

“Enquanto temos no país um ambiente institucional competitivo que privilegia e subsidia importação, as empresas alocam seus recursos seguindo esse cenário de competitividade e rentabilidade”, diz.

As grandes produtoras de fertilizantes são multinacionais e, portanto, alocam recursos para produção em determinados países de acordo com o grau de rentabilidade. Se compensar mais produzir fertilizantes em um país e então exportar para o Brasil, esse é o caminho seguido.

Silva também cita outras questões, como custos de produção e de maquinário elevados com problemas de logística, preço alto de energia elétrica —essencial na produção de fertilizantes— e um “olhar de curtíssimo prazo” que privilegiou e incentivou a importação por ser mais barata.

Juliana Lemos, analista-chefe do Globalfert, afirma que existem dois tipos de empresas no setor de fertilizantes. As produtoras, que se encarregam das matérias-primas, geralmente nutrientes como nitrogênio, potássio e fósforo, usadas em fertilizantes. E as montadoras, que compram esses nutrientes prontos e “montam” os fertilizantes. É comum também que existam empresas que realizem as duas atividades.

Em 2021, o total de importação de fertilizantes, prontos ou para serem misturados, foi de 34,7 milhões de toneladas, cerca de 85% do total negociado, o que indica a força das montadoras no país.

“O Brasil é uma potência agrícola, então usamos a maioria dos tipos de fertilizantes que existem”, diz. O tipo depende principalmente das características do solo e da cultura que será plantada.

Lemos diz que o Brasil produz principalmente potássio, usado em uma série de fertilizantes, mas que mesmo assim não é o suficiente para atender à grande demanda do agronegócio.

Um estudo do Globalfert aponta que, em 2021, pouco mais de 70% do mercado de fertilizantes NPK (que contém nitrogênio, fósforo e potássio) do Brasil era controlado por três empresas.

A maior, com 28%, é a Mosaic, originária dos Estados Unidos. Em seguida vem a Yara, empresa de origem europeia, com 23%, e a Fertipar, com 22%, uma das poucas grandes empresas do setor que ainda é nacional, fundada no Paraná.

O peso de empresas estrangeiras vai além das duas maiores do setor. A suíça Eurochem, por exemplo, adquiriu entre 2020 e 2021 duas grandes companhias nacionais, a Fertilizantes Tocantins (13%) e a Heringer (4%). Ainda há a Cibra, com 5% de participação, e que faz parte do grupo norte-americano Omimex.

Segundo Lemos, as aquisições recentes da Eurochem tornaram o mercado ainda mais concentrado, o que é uma característica comum em todo o mundo devido ao alto investimento que a obtenção de matérias-primas demanda.

Das três maiores empresas, a Mosaic e a Yara atuam como misturadoras e produtoras, enquanto a Fertipar é apenas misturadora. Ao todo, são 513 unidades de mistura espalhadas pelo Brasil.

Para Juliana Lemos, a dependência de importações do Brasil é um “problema antigo”. “Teve influência do baixo investimento em indústria ao longo de muitos anos, falta de incentivo, não ter direcionamento claro até por parte de governos sobre a importância no Brasil”.

“Temos produção agrícola há muito tempo, mas o crescimento exponencial foi rápido e recente, não estávamos preparados para toda essa demanda”, acrescenta.

Efeitos da guerra
Para o diretor do Sinprifert, a guerra na Ucrânia atingiu um setor já pressionado no Brasil, com margens “apertadíssimas”. Ele avalia que o aumento de preços dos fertilizantes não deve se traduzir em um lucro maior porque os custos também aumentaram, em especial de energia e transporte devido às altas do petróleo e do gás natural.

Ele aponta, porém, uma possibilidade de aumento de mercado, ou seja, aumentar a produção e se aproximar mais dos 13 milhões de toneladas potenciais, já que o cenário deve gerar uma redução nas importações, abrindo janelas de oportunidades.

A combinação de todos esses fatores deve levar a um “aumento de participação, mas não de receita”.

Juliana Lemos avalia que a demanda do agronegócio por fertilizantes está bastante favorável no Brasil, o que é positivo, mas também gera um “desafio monstruoso” de manter o fornecimento de matérias-primas para atender ao setor.

Isso exigirá a criação de novos contratos, rotas de transporte e também novos fornecedores, mas atualmente são poucos países com capacidade para expandir a produção e atender mais mercados.

“A expectativa é de mais vendas, mas é um grande desafio. Vai demandar estratégias certeiras para garantir o fornecimento”, diz.

Ao mesmo tempo, ela acredita que a guerra deve fortalecer uma tendência de diversificação de fontes de fertilizantes, com aumento de alternativas como orgânicos e organo-minerais, mas não a ponto de suprir toda a demanda do agronegócio brasileiro.

Bernardo Silva afirma que o cenário atual de elevação de preço dos fertilizantes, que na verdade começou na pandemia com o descompasso entre oferta e demanda, não é problema real do setor, mas ajudou a escancará-lo.

O setor ficou no olho do furacão, mas há décadas já falávamos sobre isso. A resolução do curtíssimo prazo é algo que um setor como o nosso não olha porque não é o problema real. Só vai ter um equilíbrio saudável se começar a no curtíssimo prazo implementar medidas de longo prazo

Bernardo Silva, diretor-executivo do Sinprifert
“Se quiser resolver só essa questão pontual, é só perpetuar, só irá atrás de outros fornecedores e diluir esse risco [de quedas no fornecimento]”, diz.

Nesse sentido, ele vê o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes pelo governo federal como um “passo realista” em direção a uma mudança verdadeira para o setor.

Potencial
A analista-chefe do Globalfert afirma que ainda é difícil entender qual é o potencial real do setor de fertilizantes no Brasil pensando na expansão de uma produção nacional, já que faltam estudos e um mapeamento detalhado de reservas minerais.

Ela avalia que o plano divulgado pelo governo “é para daqui a 30 anos, e não deve dar independência total, mas pode levar a uma mobilização maior”.

Segundo Bernardo Silva, o plano trouxe um diagnóstico aprofundado da situação atual do setor, com metas para o médio e longo prazo. O objetivo é reduzir a dependência brasileira de importações para cerca de 45% ou 50% do total até 2050.

Ele diz que cada um dos três macronutrientes acabou tendo uma projeção diferente de alta de produção, que leva em conta as disponibilidades de obter as matérias-primas no Brasil. No caso dos nitrogenados, por exemplo, a importação poderia ser reduzida de 93% para 51%, e no caso dos fosfatados, de 78% para 5%.

Para atingir isso, ele considera que o principal é “termos um ambiente de isonomia, um campo de jogo nivelado entre importação e produção nacional. Hoje não tem porque há subsídios, incentivos e desoneração à importação”.

Como exemplo, ele cita a cobrança de ICMS sobre fertilizantes, que é praticamente isenta para importados e de cerca de 8,4% para a produção nacional. Também defende medidas como linhas de financiamento específicas para o setor, com taxas mais competitivas, e a implementação de medidas como o Marco do Gás para reduzir o preço da commodity.

“É uma questão de resolver infraestrutura e logística, assim como acesso e disponibilidade de matérias-primas. Dar mais agilidade nos processos de licenciamento ambiental, projetos hoje parados nessa etapa, e não é diminuir exigências, é melhorar a burocracia”.

“Um olhar de curtíssimo prazo permeou as políticas públicas nos últimos 25 anos, sempre olhou pelo caminho mais curto e fácil, de importar, e agora vemos que isso não trouxe os resultados esperados”, afirma.

https://www.cnnbrasil.com.br/business/alta-de-fertilizantes-prejudica-setor-no-brasil-mas-e-oportunidade-de-expansao/

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O agronegocio na relacao Brasil-China - Marcos Jank (FSP)

Azeitona brasileira na empada chinesa, ou um boi inteiro?
Visão estratégica sobre a questão central do relacionamento?
Tem muitas outras coisas a serem discutidas nessa importante questão.
Paulo Roberto de Almeida

Mudanças no agronegócio chinês e o Brasil
Marcos Sawaya Jank (*)
Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 03/02/2018

Transformações profundas exigem estratégia refletida e negociação estruturada.

São louváveis as raras iniciativas de reflexão sobre o longo prazo no Brasil. O Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) criou um grupo para discutir em profundidade dez temas estruturais da relação Brasil-China. Participei do debate sobre “complementaridade e dependência no agronegócio”.

Quarenta anos após as primeiras reformas agrícolas conduzidas por Deng Xiaoping, podemos dizer com segurança que as transformações do agronegócio chinês foram profundas e impressionantes. A saber:

1. Segurança alimentar: a China trocou a diretriz da autossuficiência alimentar a qualquer custo por uma política de “segurança alimentar estratégica orientada pelo mercado”. Nesse contexto, ela se abriu inicialmente para a soja em grãos, que responde sozinha por 40% da exportação total e 80% da exportação agrícola do Brasil. Nossas exportações agro para a China e Hong Kong saltaram de US$ 6 bilhões para 30 bilhões nos últimos dez anos.

Agora a China começa a rever a sua política de estoques estratégicos e preços administrados, o que deve levar gradualmente a maiores importações de milho, açúcar e carnes no futuro, ainda que com grandes dificuldades de acesso (cotas e barreiras técnicas e sanitárias) acopladas a travas de defesa comercial (salvaguardas no açúcar e antidumping no frango). O Brasil precisa diversificar a pauta de exportações e adicionar valor aos produtos exportados.

2. Investimentos para garantir a “originação” das matérias-primas: a internacionalização das empresas chinesas visa o controle das cadeias de suprimento – genética, infraestrutura, armazenamento, processamento e comercialização. Exemplos são as aquisições de empresas como Syngenta, Noble, Nidera e Fiagril.

3. Segurança do alimento, qualidade e sustentabilidade: a grande obsessão atual da China é com qualidade, sanidade e sustentabilidade ambiental da produção. Nessa área temos muito a contribuir nas relações bilaterais, mas é preciso melhorar o processo regulatório: processos e padrões mais transparentes, qualidade das respostas nos questionários, rastreabilidade de produtos, combate ao contrabando, integração das cadeias produtivas com investimentos cruzados das empresas e um diálogo mais permanente e fluido para evitar as arbitrariedades. 

4. O papel do Brasil e da China no agronegócio mundial: investimentos em tecnologia, ganhos de escala e subsídios a insumos modernos transformaram a China em uma potência agrícola. O país virou o 3º maior exportador de agro do mundo, com US$ 95 bilhões/ano, ligeiramente à frente do Brasil. O exemplo mais contundente está nas exportações de pescados, frutas e hortaliças, que já ultrapassa US$ 40 bilhões anuais. São centenas de categorias de produtos frescos e processados exportados basicamente para o resto da Ásia.

Os ganhos de produtividade total da agricultura chinesa são equivalentes aos obtidos pelo Brasil desde 1980 3% ao ano, o dobro da média mundial. Esse desempenho extraordinário exige uma visão estratégia concertada nos fóruns internacionais que tratam de segurança alimentar, comércio, clima, água e energia. A coordenação praticamente inexiste, e a relação é dominada por conflitos pontuais de curto prazo.

Estamos condenados a nos casar com a China, de alguma forma. Mas até aqui foi ela que deu corda e dominou a relação, pois pensa estrategicamente e sabe perfeitamente o que quer. Nós somos o oposto da China: ansiosos, imediatistas, individualistas e meio esquizofrênicos. Não sei se isso é curável, mas ano eleitoral é sempre uma oportunidade para refletir sobre a nossa desorganização endêmica e mudar hábitos.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Venezuela: dependencia desesperada da China e caos cambial

Venezuela-China

Venezuela negocia préstamos por US$10.000 millones con China

Reuters
InfoLatam, Caracas, 19 de marzo de 2015
Las claves
  • Ese préstamo, dijo la fuente, sería pagadero en 10 años y permitiría a PDVSA satisfacer sus necesidades de financiamiento este año sin salir a los mercados internacionales.
Venezuela negocia con China dos préstamos por un total de 10.000 millones de dólares, dijo a Reuters una fuente de alto rango de la petrolera estatal, como parte de la estrategia del Gobierno de obtener recursos para amortiguar la caída de sus ingresos sin acudir a los mercados internacionales.
Los primeros 5.000 millones serían depositados en abril en un fondo especial chino destinado a financiar proyectos en Venezuela para luego ser transferidos a las reservas del país, dijo la fuente de la estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) que pidió omitir su nombre por no poder hablar públicamente.
Ese tramo tendría que liquidarse en cinco años, después de que China aceptara extender el vencimiento, precisó la fuente.
Los otros 5.000 millones son negociados como un “préstamo especial” para PDVSA, que podría firmarse en junio y que pone como condición que el dinero se utilice para financiar proyectos petroleros.
Ese préstamo, dijo la fuente, sería pagadero en 10 años y permitiría a PDVSA satisfacer sus necesidades de financiamiento este año sin salir a los mercados internacionales.
“China quiere respaldar de manera determinante inversiones en áreas como campos maduros para que PDVSA pueda incrementar producción rápidamente”, comentó la fuente.
Ante el desplome de los precios internacionales del crudo, el país miembro de la OPEP ha buscado más apoyo financiero de China, que ha prestado más de 45.000 millones de dólares a Venezuela en la última década a cambio de envíos de petróleo.
Los recursos de los dos préstamos serán entregados por el Banco de Desarrollo de China y serán canalizados en Caracas por el Banco de Desarrollo venezolano hacia el fondo chino y PDVSA.
Venezuela tiene un complejo esquema de venta de divisas bajo el férreo control cambiario del Gobierno. Hace poco más de un mes, se creó un nuevo sistema de tasa variable que se sumó a otras dos plataformas que funcionan con tasas fijas.
Bajo este esquema, Venezuela vende dólares a 6,3 bolívares por billete verde para la importación de alimentos y medicinas, a 12 bolívares para otros bienes prioritarios y para el resto de productos a una tasa variable que ronda los 190 bolívares.
La petrolera PDVSA está obligada a vender el grueso de sus divisas por exportaciones a las dos tasas más bajas. Pero para financiar sus gastos locales, la empresa también ha comenzado a vender dólares a una tasa de cambio más favorable en el sistema cambiario de libre flotación (Simadi), afirmó la fuente.
“Se irá notando la presencia de PDVSA en este mercado”, dijo la fuente. El flujo que aporte la estatal será clave para mantener el sistema funcionando, y podría contribuir a bajar el precio del dólar en el mercado paralelo, que cerró el jueves a cerca de 260 bolívares.
Los dólares que provienen del financiamiento de los socios de PDVSA en empresas mixtas, y los que cobra por los servicios que les presta, se venderán a la tasa más alta, dijo la fuente.
Y en un estímulo a las empresas petroleras extranjeras que operan en Venezuela, el Gobierno también permitirá que “prácticamente todas” puedan financiar sus gastos operativos y de inversión a la tasa variable, dijo la fuente.
PDVSA negocia además mecanismos para garantizar que sus proveedores “estratégicos” mantengan el suministro de insumos, a pesar del incremento de la deuda que tiene con estas empresas.
Por ejemplo, General Electric estaría dispuesta a transformar unos 350 millones de dólares que la petrolera le adeuda por sus servicios en deuda financiera a pagar en tres años, dijo la fuente.

terça-feira, 17 de março de 2015

China empresta mais para a América Latina do que BID e BIRD juntos

O novo esquema de dominação colonial. Cem anos atrás, europeus dominavam completamente territórios na África, investindo em ferrovias, portos e na organização da produção primária para abastecer suas empresas manufatureiras. Banqueiros ingleses financiavam países soberanos na América Latina, para os mesmos objetivos, sendo complementados, logo após a Grande Guerra, pelos banqueiros de Nova York, e quase imediatamente após, pelos investidores diretos dos EUA. A Venezuela, que até então só exportava café e alguns poucos produtos primários, tornou-se em poucos anos uma grande exportadora de petróleo, graças ao ingresso de empresas americanas no setor.
O panorama era o de neocolonialismo europeu, ou colonialismo direto, e de imperialismo europeu e americano, dominando vários aspectos da economia do ainda não chamado Terceiro Mundo (o segundo mundo, o do socialismo, estava nascendo com a União Soviética, mais à frente).
Hoje é a China que assume esse mesmo papel para os mesmos objetivos: conformar, não mais pelo colonialismo direto, mas pelo imperialismo do dinheiro, a dominação econômica sobre vários países da América Latina, muitos países da África e grandes partes da Ásia.
Banqueiros externos podem ser benvindos em determinadas circunstâncias, mas a relação nunca é igualitária.
Estamos em face de uma nova dependência?
Paulo Roberto de Almeida

China se convierte en banquero clave para América Latina

Observatório de la Política China, 14/03/2015
 
China ha abierto sus brazos y su cartera a América Latina al ofrecer a la región más capital en 2014 que el Banco Mundial (BM) y el Banco Interamericano de Desarrollo (BID) juntos, informó el rotativo chino China Daily recientemente.
China ha abierto sus brazos y su cartera a América Latina al ofrecer a la región más capital en 2014 que el Banco Mundial (BM) y el Banco Interamericano de Desarrollo (BID) juntos, informó el rotativo chino China Daily recientemente.
El año pasado marcó el segundo mayor récord en la financiación china en América Latina, con unos préstamos que sumaron 22.000 millones de dólares, según un informe publicado por el centro de estudios Diálogo Interamericano y la Iniciativa de Gobierno Económico Global de la Universidad de Boston, ambos con sede EEUU.
Xie Wenze, investigador del Instituto de América Latina de la Academia China de Ciencias Sociales, indicó que, desde el punto de vista financiero, el país asiático se ha convertido en el más importante para las naciones latinoamericanas, ya que China ofrece préstamos bilaterales preferentes a la región sin ninguna condición previa política.
A pesar de eso, los empréstitos chinos sí tienen condiciones previas económicas, que exigen a los países que sean capaces de reembolsar o que puedan adoptar medidas como garantías gubernamentales o financiación comercial con el fin de evitar los riesgos, según el periódico.
El presidente chino, Xi Jinping, dio un discurso en la ceremonia inaugural de la primera reunión ministerial del Foro China-CELAC (Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños), celebrada en Beijing el 8 y 9 de enero, en la que reveló que China invertirá 250.000 millones de dólares en América Latina en la próxima década, mientras que el comercio bilateral ascenderá a 500.000 millones de dólares.
Después de que Xi se reuniera con sus homólogos ecuatoriano Rafael Correa y venezolano Nicolás Maduro durante el foro, China prometió ofrecer a los dos países unos préstamos de 7.500 y 2.000 millones de dólares, respectivamente, conforme al diario.
En febrero, China también prometió ofrecer a Argentina unos préstamos por 6.800 millones de dólares para apoyar la construcción de dos estaciones hidroeléctricas y varios ferrocarriles. Pero el 2 de marzo el gobierno argentino anunció que el país abolirá todos los contratos de franquicia de ferrocarriles con empresas privadas para nacionalizar su sistema de trenes.
De acuerdo con Xie, Argentina tomo la decisión de nacionalización debido a que durante los 20 años de privatización, los operadores privados incumplieron su responsabilidad de invertir como estaba regulado en los contratos de franquicia, lo que derivó en problemas de envejecimiento y frecuentes accidentes en la red.
Por lo tanto, aunque los dos países mantienen buenas relaciones bilaterales, las compañías chinas podrían sufrir algún impacto inevitable, según Chen Xi, analista de macroeconomía de la corporación China Credit Rating, citado por el rotativo.
Conforme a Chen, China mantendrá un nivel alto de inversiones en los países latinoamericanos ya que, por un lado, después de tres décadas de desarrollo la prioridad de la política de apertura de China ha cambiado de "introducir" a "salir". Con el establecimiento y la implementación de las iniciativas de "la Franja y la Ruta", la escala de la política de "salir" se ha agrandado. Por el otro, el país necesita importar productos energéticos, minerales y alimentos desde el continente.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O mito da dependencia externa e outras bobagens companheiras... - Paulo Roberto de Almeida

Durante os tempos do nunca antes -- atenção, eles ainda não acabaram, e parecem dispor de um brilhante futuro pela frente, com direito a repeteco, para infelicidade da nação, e a maior felicidade dos companheiros -- muito ouvi, li e contemplei o guia genial dos povos dizer, não uma ou duas vezes, mas incontáveis vezes, que o Brasil deveria reorientar o seu comércio para uma tal de "nova geografia do comércio internacional", pois não deveria, aliás não poderia ficar "dependente do comércio com os Estados Unidos e os outros países ricos".
Nunca ouvi, ou li, besteira maior em termos de comércio internacional, mas isso fundamentou ainda outras besteiras maiores, como uma tal "substituição de importações" em favor de países menores do que nós, mais pobres, coitados, de quem deveríamos importar mais, mesmo se a custos maiores.
Sim, essa foi a segunda maior besteira que já ouvi em matéria de "teoria" do comércio internacional: em função de uma tal "diplomacia da generosidade" -- não sei se existe nos anais da diplomacia mundial, mas é mais uma de nossas geniais contribuições ao engrandecimento moral da humanidade, uma das jabuticabas que infelizmente nos tornam ridículos aos olhos do mundo, alimentadas pelos companheiros -- o Brasil deveria importar mais dos vizinhos, mesmo se tivesse de pagar mais caro por isso.
Ou seja, o guia genial dos povos recomendava aos empresários que importassem produtos de menor qualidade e a preços mais caros, apenas para se encaixar na sua "diplomacia da generosidade". Não sei se algum empresário maluco fez essa bobagem, provavelmente não, pois eles prezam mais os seus lucros (como deve ser), do que recomendações alopradas como essas. Mas o governo fez, e continua fazendo, esse tipo de coisa: não é por nada que estamos construindo um belo porto numa ditadura caribenha, que aliás nunca será pago (e posso apostar isso).
Enfim, nesses tempos malucos eu escrevi um pequeno trabalho sobre a tal de "dependência", que acabou passando despercebido, pois nunca foi publicado em qualquer veículos, mas apenas divulgado neste blog.
Como ando revisando minhas listas de trabalhos, creio que este (de 2007, e apenas postado em 2010) merece repostagem.
Sinal de que as bobagens continuam se acumulando e não são corrigidas com a experiência do tempo passado. Enfim, o que é que vocês querem? Os companheiros não estudam, assim que não podem aprender nada de novo.
Aqui vai, sem mexer em nada...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2/02/2014

A Dependência Diplomática e os Interesses Nacionais

Notas esparsas
Paulo Roberto de Almeida
Divulgado no blog Diplomatizzando (11.07.2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/07/de-vez-em-quando-descubro-algum.html).

A interdependência econômica é um fato irrecorrível do mundo contemporâneo. Mesmo nos momentos de maior abertura econômica internacional, correspondendo aos “anos dourados” do capitalismo triunfante da belle époque – grosso modo, entre o último quinto do século XIX e os três primeiros lustros do século XX – o mundo nunca foi tão interdependente como agora.
            Havia, obviamente, naquela época, mais liberdade do que hoje: para a circulação de capitais, de pessoas e de investimentos diretos, mas o comércio de bens era essencialmente um intercâmbio entre bens finais, correspondendo à centralização e à verticalização da produção.
            Atualmente, o comércio se faz basicamente dentro dos mesmos ramos industriais, em grande medida intra-firmas, e se concentra nos bens intermediários, ou partes e acessórios que serão assemblados em locais por vezes muito diferentes daqueles que produziram os componentes, sendo que as atividades de design, marketing e controle das operações se fazem nas sedes das empresas, onde muito provavelmente o produto físico final jamais é visto ou manipulado. Ele será, se tanto, objeto de contabilidade empresarial.
            Isto significa, essencialmente, que o mundo se tornou quase tão plano quanto possível, pelo menos ao nível dos processos produtivos e das operações dos grandes conglomerados multinacionais. Infelizmente, talvez, para as pretensões de Tom Friedman, o mundo não é plano no que se refere a normas, regulamentos, políticas setoriais e sobretudo para a plena circulação dos fatores de produção que poderiam se disseminar com muito maior rapidez, fossem as fronteiras realmente livres – um borderless state, como pretendia Kenichi Omahe – e as regras de comércio internacional aplicáveis de maneira uniforme pela maioria dos países.
            Enquanto economistas sensatos são entusiasticamente a favor de sempre maior liberalização comercial, políticos ditos “sensatos” insistem nas velhas receitas protecionistas. Ainda assim, o protecionismo tornou-se basicamente setorial nos países desenvolvidos – tocando a agricultura e algumas velhas indústrias com alguma sensibilidade empregadora. Nos países em desenvolvimento, ele é bem mais disseminado, cobrindo inclusive as ditas políticas setoriais, supostamente favoráveis ao “desenvolvimento nacional”.
            O fato é que as melhores políticas setoriais são aquelas de caráter universal e horizontal, cobrindo basicamente educação, capacitação técnico profissional da mão-de-obra e investimentos em ciência e tecnologia e infra-estrutura, de modo amplo (inclusive os marcos legais responsáveis por um bom ambiente de negócios). Os países que mais prosperaram, nas últimas décadas (ou mais), são aqueles que asseguraram, ao mesmo tempo e de forma sólida, a manutenção dos seguintes requerimentos:
1) estabilidade macroeconômica
2) microeconomia competitiva
3) instituições de governança market-friendly
4) alta qualidade dos recursos humanos
5) abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros

            Ainda no terreno da interdependência econômica, existe uma nítida correlação entre o coeficiente de abertura externa – isto é, comércio exterior total sobre o PIB – e os níveis de renda e riqueza de um país. Com a possível exceção dos EUA – que apresentam pequeno coeficiente, mas apenas porque seu mercado interno é imenso, sendo ainda assim um país tremendamente aberto ao comércio internacional – e do Japão – aqui por estrito nacionalismo econômico, o que atua em seu detrimento, mas que ainda assim constitui uma economia basicamente voltada para a competição externa baseada na qualidade –, todos os países mais prósperos do mundo apresentam alto grau de abertura externa.
            O Brasil se situa, infelizmente, em menos da metade da média mundial e tem ainda um longo caminho no sentido de construir a sua interdependência econômica, o que deve ser assegurado, essencialmente, por empresas nacionais internacionalizadas.

            Portanto, quanto mais o Brasil for interdependente das trocas internacionais, menos dependente ele será das alterações dos mercados internacionais. Ser interdependente garante, de fato, a independência nacional.
            Este fator é verdadeiro inclusive no plano financeiro. Tivesse o Brasil um fluxo de comércio internacional – em ambos os sentidos – que representasse o triplo dos níveis atuais, ele não necessitaria acumular um volume tão alto de reservas internacionais  -- mais de um ano de importações, quando os economistas recomendam três meses em média –, o que representa altos custos em termos fiscais. Um alto fluxo, contínuo, de pagamentos de fatores é a melhor garantia que um país pode ter em caso de crises, juntamente com um comércio diversificado, tanto em sua composição quanto na cobertura geográfica.

            No plano político, o Brasil deveria manter um diálogo de alto nível com os principais parceiros dos seus intercâmbios comerciais, de serviços, financeiros e monetários, que são, obviamente, as potências econômicas mundiais. A busca de arranjos ad hoc com países em desenvolvimento perpetua políticas defensivas, restritivas, protecionistas e basicamente estatizantes, quando o que se persegue é um setor privado vibrante e dinâmico, capaz de dialogar de igual para igual com as grandes empresas mundiais. Os esquemas negociadores que pretendem juntar os “países em desenvolvimento” em torno de plataformas comuns são essencialmente self-defeating e equivocados, pois que reduzindo os interesses nacionais do país a um conjunto muito modesto de interesses setoriais – geralmente concentrados em produtos de menor elasticidade-renda e de crescimento vegetativo no plano do comércio internacional – quando o interesse do país se encontra na diversificação da sua produção de manufaturados, os de maior dinamismo nesse comércio.
            Grupos como o G-77, G-20 ou o grupo dos sul-americanos são contraditórios por sua própria natureza. Grandes países, com pretensões a uma política externa verdadeiramente independente, não amarram seus interesses exclusivamente a um grupo específico, e sim mantêm uma estratégia multifacética, feita de táticas diferentes para cada questão objeto de negociação. Exemplos disso são a China e a índia, que acompanham o Brasil no G-20, mas não deixam de se inserir em outros grupos também, por vezes de interesse diverso e até contraditório com o G-20, mantendo absoluta independência de ação, sem qualquer concessão a uma pretensa “solidariedade entre países em desenvolvimento”. Isto é uma ilusão profunda da política externa brasileira, que vem prejudicando os interesses dos seus setores produtivos mais dinâmicos.

            Em uma palavra: o interesse nacional não se defende com posições principistas, sobretudo ideologicamente motivadas e eivadas de preconceitos contra os países desenvolvidos, mas sim com posições pragmáticas que contempla, basicamente, as estratégias de crescimento das próprias empresas baseadas no território nacional – nacionais ou estrangeiras – e não a de políticas ditas “nacionais”, ilusoriamente classificadas como de “desenvolvimento”, quando elas respondem unicamente aos desejos de burocratas governamentais.

            Uma palavra retorna de forma recorrente em certos discursos políticos para justificar algumas políticas equivocadas no plano econômico externo: a de “soberania”. Pretende-se, como se diz, favorecer a inserção econômica internacional do Brasil, com a “preservação da soberania nacional” (sem mencionar que, ao mesmo tempo, se impulsiona a integração regional de forma exacerbada e até irracional, o que é uma alienação de soberania evidente, e portanto totalmente contraditória com aquele primeiro objetivo).
            Descartando o fato de que soberania não se defende retoricamente e sim na prática, cabe registrar que a melhor defesa da soberania nacional está no fortalecimento da base econômica nacional, o que só se obtém através de uma internacionalização ativa da economia nacional, por mais contraditório que isso possa parecer. Soberania são empresas nacionais capazes de competir globalmente, não um Estado “extrator” de todas as energias nacionais por uma taxação exagerada e uma regulação intrusiva que impede as empresas de se concentrar naquilo que elas devem fazer prioritariamente: competir em todos os mercados, nacionais e internacionais. 

            Seria preciso libertar a diplomacia da “dependência” anacrônica de idéias requentadas de outras épocas, como um cepalianismo démodé, um nacionalismo velhusco, e um protecionismo visceral. Uma diplomacia ideologicamente dependente é a melhor garantia de que o Brasil vai continuar arrastando-se penosamente em direção à modernidade, impulsionado, certo, por empresários dinâmicos, mas que precisam competir com uma bola de ferro amarrada aos pés, representada por políticas setoriais ultrapassadas e inadequadas aos nossos tempos de globalização.
            Por fim, seria preciso libertar o Brasil, também, da dependência de programas grandiosos, e em grande medida retóricos, de integração continental, como a chamada Unasul – de inspiração chavista – e fazê-lo concentrar-se em projetos pragmáticos favorecendo a liberalização comercial recíproca no continente. Seria preciso, igualmente, superar a dependência estrita de grandes acordos multilaterais  - que são bem mais difíceis de serem concretizados – e adotar uma estratégia múltipla de acordos talvez mais limitados, mas de ganhos concretos em mercados setoriais.
            Colocar todas as suas cartas em uma única cesta nunca foi a melhor tática, em qualquer terreno que se pense. Quanto mais liberdade dispuser o país, e isso implica, em primeiro lugar, em liberdade “mental” para conceber novas políticas, menos dependente diplomaticamente será o Brasil.

18.09.2007

sábado, 20 de julho de 2013

Divida externa, periferia, dependencia, etc: falacias academicas - Paulo Roberto de Almeida

Preciso retomar a minha série das Falácias Acadêmicas (veja aqui), para explicar alguns processos reais, ou seja, da economia e das relações internacionais, cuja compreensão é embotada por todo um jargão vazio, disseminado nas academias brasileiras por professores incompetentes ou simplesmente ignorantes.
Vejamos o que acabo de receber como comentário, de um leitor deste blog:

Anônimo disse...
Almeida,
mas que argumentos sustentam sua opinião que a dívida não é mais um problema? O fato de termos reservas suficientes para pagá-la? As economias periféricas são altamente dependentes do mercado de ações para financiarem suas dívidas, grande parte do orçamento que poderia ser usado para reduzir as diferenças sociais (que eu não acredito que seja discriminar classe alguma) vão para fora do Brasil pagar algo que desconhecemos.
Acredito igualmente que a SOLUÇÃO para TODOS os problemas brasileiros devem ser MADE IN BRAZIL, mas como entender esses problemas sem inserir o país em um contexto histórico e econômico de dependência externa?
Cxxxx
Comento:

1) Dívida externa: Não se trata apenas do fato de ter acumulado reservas internacionais em volume suficiente para a liquidação de todas as obrigações externas do Brasil. Isso pode contar para minimizar o peso da dívida no conjunto dos passivos brasileiros.
Trata-se, basicamente, do fato de que o volume da dívida representa atualmente uma proporção mínima do valor agregado anualmente como riquezas pelo país, ou seja, tanto a relação dívida/PIB, que caiu bastante nos últimos dez anos, como a relação serviço da dívida/exportações brasileiras, ou seja, a quantidade de dólares suficientes para cobrir os juros da dívida em relação aos ganhos exteriores das vendas brasileiras em divisas. Trata-se de pura matemática elementar portanto.
Tem mais: a parte da dívida do governo no total da dívida externa é muito limitada, já que a maior parte é dívida comercial, ou seja, bancos e empresas que captam recursos lá fora e a quem cabe pagar. Ora, é sabido que as empresas do setor captam a juros extremamente reduzidos e "vendem" esse dinheiro no mercado interno a juros extremamente elevados. Cada vez que você compra a "dez vezes sem juros", você está dando um lucro extraordinário a esses gigolôs nacionais, que acumulam dinheiro de sobra para pagar os créditos externos.

2) Dependência: Esse é um conceito vazio, que só existe na boca de professores ignorantes, que não conseguem visualizar a realidade das relações econômicas internacionais. Economias "periféricas" (outra bobagem conceitual) não precisam ser dependentes de ações ou investimentos externos para financiarem suas "dívidas"; ninguém as obriga a se endividarem no exterior. É certo que países emergentes, não integrados na economia internacional, e insuficientemente capitalistas (como é o caso do Brasil), não produzem poupança suficiente para os investimentos produtivos. Mas isso não significa que necessitem se endividar externamente para realizar investimentos, se forem abertos e aceitarem investimentos diretos estrangeiros.
É apenas o nacionalismo econômico, essa doença nefasta (junto com o patriotismo ingênuo), que impede os países de se abrirem aos investimentos externos. Países esquizofrênicos, como o Brasil, amam o capital estrangeiro e detestam o capitalista estrangeiro: em consequência, em lugar de aceitarem investimentos externos, se endividam inutilmente.
Só existe dependência externa quando se é incapaz de resolver os problemas nacionais de maneira autônoma. O conceito, em si, é uma bobagem, mas governos irresponsáveis o transformam em realidade, ao fazer apelo ao dinheiro fácil do exterior, em lugar de criar as condições internas para aumentar a poupança e os investimentos nacionais, deixando, em primeiro lugar, de gastar no próprio Estado, para investir em saúde e educação.

3) Orçamento para redução das diferenças sociais: outro sinal de deficiência econômico. As desigualdades sociais devem ser reduzidas preferencialmente por ações de mercado -- ou seja, crescimento econômico, com transformação produtiva, que gera empregos mais bem remunerados -- e complementarmente por investimentos estatais em educação de base (primário, secundário, escolas técnicas, ponto), não com base em distributivismo político inconsequente, que só consegue criar uma nação de assistidos, como é o caso do curral eleitoral a que se dá o nome de Bolsa Família.

Infelizmente, o "debate" público sobre essas questões não deixa de refletir o estado de indigência intelectual a que se reduziu, hoje, boa parte dos cursos de humanidades nas faculdades brasileiras.
Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 17 de julho de 2013

China: economia sob ameaca, Brasil vai sofrer - NYTimes

Epa! Agora a coisa parece séria: o próprio FMI fazendo alertas para os dirigentes chineses sobre a insustentabilidade das políticas atuais.
O Brasil, altamente dependente da demanda chinesa, já está se ressentindo da diminuição das taxas de crescimento naquele país, o que significa que, ademais dos problemas "made in Brazil", propriamente - inflação, desequilíbrio das contas públicas, perda de credibilidade das políticas macro e setoriais, corrupção, etc. -- também teremos de enfrentar um ambiente externo menos propício -- e cada vez mais competitivo, na nossa própria região -- à manutenção de taxas, já não digo altas, mas razoáveis, de crescimento econômico.
O Brasil, como já alertado diversas vezes, pode estar atravessando, por um largo período, o que foi designado como "estagnação no baixo crescimento".
Portanto, não esperem ficar ricos na sua geração: a renda, ao ritmo atual, só dobra em três gerações...
Paulo Roberto de Almeida

The New York Times, July 17, 2013

I.M.F. Tells China of Urgent Need for Economic Change


WASHINGTON — China’s growth has slowed significantly in recent months. But even its current pace of expansion may be unsustainable unless the country starts making significant and systemic changes to its economy, and soon, the International Monetary Fund warned Wednesday.
“Since the global crisis, a mix of investment, credit and fiscal stimulus has underpinned activity,” the I.M.F. said in a major annual assessment of the Chinese economy. “This pattern of growth is not sustainable and is raising vulnerabilities. While China still has significant buffers to weather shocks, the margins of safety are diminishing.”
The report emphasized downside risks to the Chinese economy, touching on familiar themes though imparting more of a sense of urgency than it has in the past.
The country still has large foreign-currency reserves and plenty of room for new government spending to buffer against any unexpected shocks, said Markus Rodlauer, the I.M.F.'s China mission chief, in an interview. But he said the Chinese economy was looking more and more vulnerable, with changes only getting harder to make as time goes on.
The I.M.F. — along with a range of international economic officials, research groups, academics and financial market participants — has raised concern that money is pouring into mispriced real estate and infrastructure investments in China that are increasing growth in the short term but might do little for the Chinese economy down the road.
For decades, a cheap currency, cheap labor and huge infrastructure investment fueled enormous growth in the Asian nation. China has made “substantial” progress on rebalancing its trade deficits with the rest of the world, the I.M.F. said, and its current account balance as a share of its total economy is less than a quarter of its precrisis peak.
The fund described the Chinese currency as “moderately” undervalued, as it has for about a year after a long stretch of describing it as “significantly” undervalued — a policy maneuver that helped boost China’s exports but angered many foreign countries whose goods became relatively less competitive.
But imbalances in China’s domestic economy “remain large,” the I.M.F. warned, with Chinese consumers failing to take over for consumers from the United States, Germany and other countries who helped stoke China’s growth for years. Consumption rates have barely budged from last year. But net purchases of physical assets like roads, hospitals and commercial buildings grew further as a share of the economy.
“A decisive shift toward a more consumption-based growth path has yet to occur,” the I.M.F. said. “Accelerating the transformation of the growth model remains the main priority.”
The I.M.F. focused on a few spots of acute risk in the Chinese economy.
One is the financial system. The country has seen huge boom in lending through “less regulated” parts of its financial system, it said. The report raised concerns about the adequacy of the country’s regulatory controls, and about the quality of underwriting and the pricing of risk.
The formal banking sector might not be as strong as it looks, either, the I.M.F. warned. “Based on reported data, bank balance sheets appear healthy and loan books show only a modest deterioration in asset quality,” it wrote. “However, banks remain vulnerable to a sharper worsening of corporate sector financial performance.”
Another issue is a proliferation of debt-financed spending by local governments without adequate tax bases, often through “local government financing vehicles” that have long been fingered as a weak spot in China’s markets. “Further rapid growth of debts would raise the risk of a disorderly adjustment in local government spending,” the I.M.F. warned.
Finally, it also cautioned about the possibility of sharp price drops in the real estate markets, which remain “prone to bubbles,” the I.M.F. said, in no small part because many Chinese savers do not earn interest on their deposits and thus push money into the housing markets.
Making adjustments to the financial markets and correcting the pace of infrastructure spending might mean slower growth in the near term, the I.M.F. has said. But it might mean more sustainable growth in the long term, with substantial benefits not just for China but for global growth as well.
But that message is coming as the Chinese economy is already slowing down considerably, with growth falling to an annual pace of about 7.5 percent, down from a peak of more than 14 percent in 2007, before the global financial crisis.
More broadly, the emerging market economies that helped pull the world out of the global recession have cooled of late, dragging down the global growth rate with them. Growth remains sluggish in the United States, and much of Europe is mired in a recession.
“Growth in emerging market economies will remain high, much higher than in the advanced economies, but may be substantially lower than it was before the crisis,” said Olivier Blanchard, the I.M.F.'s chief economist, at a news briefing this month.
China is aware of the issues that the I.M.F. and other analysts have raised, and it generally agrees with them. Chinese policy makers have in part engineered the recent economic slowdown and have shown a willingness to make changes. But there are few details now about how the new Chinese government might move to revamp the nation’s economy, with more elaboration expected after a major Communist Party meeting this fall.
Policy makers in Beijing are aware of the issues that the I.M.F. and other analysts have raised and are aiming to restructure the economy in a bid to make future growth more sustainable. The fact that China’s population is aging — and its labor force gradually shrinking — adds to the pressure for structural overhauls.
The authorities are now aiming to raise domestic consumption and productivity, reduce China’s reliance on exports and construction investment, and rein in financial risks flagged in the I.M.F.'s report.
In recent weeks, Beijing has made it increasingly clear that it is prepared to tolerate a slower pace of growth as it pursues those goals and that there will be no repeat of an aggressive stimulus that followed the global financial crisis.
Prime Minister Li Keqiang reiterated that message in comments reported by the official Xinhua news agency on Wednesday. Although he acknowledged that the economy faced risks and challenges, he said, it remained ‘‘generally stable,'’ according to Xinhua.
And while the authorities must work to "keep economic growth within a reasonable range," they would aim to deploy ‘‘targeted’’ policies and "not change the direction of policies based only on temporary changes in economic barometers," Xinhua quoted Mr. Li as saying.
“Beijing is trying to boost public confidence and emphasize the seriousness of its intention by reiterating the need to stabilize growth," Qu Hongbin, chief China economist at HSBC in Hong Kong, wrote in a note on Wednesday, referring to Mr. Li’s comments. "We expect further modest fiscal stimulus to put a floor on growth.”

Bettina Wassener contributed reporting from Hong Kong.