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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

A horrível política externa de Bolsonaro: já brigou com meio mundo - José Casado (Veja)

 Bolsonaro já atacou governos de 26% da população do planeta


Em 44 meses no Palácio do Planalto, ele provocou confusão com governantes de 15 países

Por José Casado Atualizado em 31 ago 2022, 07h44 - Publicado em 31 ago 2022, 06h00 

No mundo de Jair Bolsonaro política externa se faz à base de caneladas. Na contabilidade da diplomacia, em 44 meses no Palácio do Planalto ele já atacou governos de 15 países.

A mais recente ofensiva foi contra o governo do Chile, no debate eleitoral do início da semana. Em protesto, Gabriel Boric, presidente chileno, retirou seu embaixador de Brasília.

Diplomatas brasileiros listaram por região alguns episódios de agressões, quase todas gratuitas: na América do Sul, foram Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, Bolívia e Venezuela; na América do Norte, os Estados Unidos sob Joe Biden; na Europa, Espanha, Portugal, França, Reino Unido, Noruega, Holanda e Alemanha; e, na Ásia, China.

Nessa conta não entrou o Vaticano. Foi esquecimento, dizem no Itamaraty. Em 2019, Bolsonaro criticou a hierarquia da Igreja Católica e o governo tentou infiltrar espiões no Sínodo da Amazônia, que mobilizou o clero de nove países da região.

Os países listados somam 2,1 bilhões de habitantes. Significa que nos atritos provocados por Bolsonaro já envolveram governos de 26% da população do planeta. Um recorde na história da diplomacia verde-amarela.

https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/bolsonaro-ja-criou-confusao-com-governos-de-26-da-populacao-do-planeta/

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Como os lacaios de Trump violaram a Constituição brasileira para ajudar um golpista do Império: golpe contra Maduro - José Casado (Veja)

Antes mesmo de tomar posse, os lacaios do aloprado Trump, Bozo e o chanceler acidental, TRAMARAM CONTRA A CONSTITUIÇÃO, o princípio na não intervenção nos assuntos internos de outro país, no caso bem pior, a tentativa de golpe contra o ditador chavista Maduro, da Venezuela. Os trapalhões se deram mal, pois a inteligência cubana já tinha detectado os movimentos preparatórios.

Paulo Roberto de Almeida

 Fiasco de Trump e Bolton, com ajuda de Bolsonaro, salvou o ditador Maduro


Ex-assessor de Trump fala do fracasso de plano de golpe na Venezuela, que teve adesão de Bolsonaro 32 dias antes da posse em Brasília 

Por José Casado Atualizado em 14 jul 2022, 08h15 - Publicado em 14 jul 2022, 08h00 

John Bolton, 73 anos ex-conselheiro de Segurança Nacional do governo Donald Trump, comentou ontem, em entrevista a Jack Tapper, da CNN, as manobras do ex-presidente para tumultuar a eleição presidencial americana de 2020, impedir a posse de Joe Biden e continuar no poder.

Bolton, integrante da elite de servidores do Partido Republicano, conviveu com Trump por 16 meses. Romperam por diferenças sobre as intervenções de Trump na política externa — foi demitido num tuíte e chamado de “doido” e “incompetente” pelo presidente.

Fora do governo, Bolton se vingou num livro (“The Room Where It Happened: A White House Memoir” — jA sala onde aconteceu: um livro de memórias da Casa Branca). Contou com detalhes algumas das delinquências presidenciais. Entre elas, o aval de Trump ao presidente da China, Xi Jinping, na construção de campos de concentração para mais de um milhão de pessoas da minoria étnica muçulmana uigur.

Ontem, Bolton falava na CNN sobre a tentativa de golpe de Trump na invasão da sede do Congresso americano, em janeiro do ano passado, quando o jornalista Jack Tapper provocou, com ironia: “Não é necessário ser brilhante para tentar um golpe de estado.”

O ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump rebateu: “Discordo disso. Como alguém que já ajudou a planejar golpes de estado, não aqui [nos Estados Unidos], mas, você sabe, em outros lugares, isso demanda muito trabalho. E não foi isso o que [Trump] fez. Ele apenas foi tropeçando de uma ideia a outra.

No fim das contas, ele incentivou a invasão do Capitólio. Quanto a isso, não há nenhuma dúvida.

“Os golpes foram bem sucedidos?” — Tapper quis saber.

Bolton, que foi embaixador do governo George W. Bush na ONU, entre 2005 e 2006, preferiu desconversar: “Não vou entrar em detalhes, mas…” E mencionou superficialmente o esforço do governo Trump para derrubar o ditador venezuelano Nicolás Maduro, admitindo: “Não foi bem-sucedido.

Foi um completo fiasco — e com a participação de Jair Bolsonaro, que aderiu à proposta de Trump para ajudar a derrubar Maduro exatos 32 dias antes de tomar posse em Brasília.

Às 7 horas da manhã de quinta-feira 29 de novembro, o recém-eleito Bolsonaro recebeu, com uma continência, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA na sua casa na Barra da Tijuca, no Rio. Estava acompanhado dos futuros ministros Fernando Azevedo (Defesa), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Bolton saíra de Washington para uma reunião do G-10, o grupo dos países mais industrializados, em Buenos Aires. A escala no Rio tinha dois objetivos: convidar Bolsonaro para, depois da posse, se reunir com Trump em Washington, e, confirmar a disposição do futuro governo brasileiro em se engajar num plano para derrubar o ditador venezuelano Nicolás Maduro.

Em janeiro de 2019, quando Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto, o projeto de golpe avançava com um governo paralelo na Venezuela, liderado pelo oposicionista Juan Guaidó. A cooperação brasileira foi coordenada, simultaneamente, em Washington e Caracas

“Contatos contínuos”, contou Bolton no livro, “estavam sendo feitos com altos oficiais militares, com exmembros do gabinete chavista, líderes sindicais e outros setores da sociedade venezuelana para construir alianças. Achávamos que o ímpeto permanecia com a Oposição, mas eles precisavam acelerar o ritmo.”

Prosseguiu: “Na Venezuela, estava sendo desenvolvido um plano, que achávamos promissor, para trazer suprimentos humanitários através das fronteiras da Colômbia e do Brasil para distribuir pela Venezuela.”

Maduro havia fechado as fronteiras com o Brasil e a Colômbia. Para a Casa Branca, a ajuda humanitária no país em convulsão social e com a economia derretendo, catalisaria as forças de oposição ao regime. Também mostraria que as fronteiras da Venezuela, na prática, estavam abertas, “refletindo a crescente falta de controle” de Maduro. E ele ficaria na “posição impossível de negar suprimentos humanitários a seus cidadãos empobrecidos”.

Combinou-se o sábado 23 de fevereiro como o “Dia D”, a data-alvo para o começo da “ajuda humanitária da Colômbia e do Brasil à Venezuela”.

Entre janeiro e fevereiro, relata Bolton, intensificaram-se os boatos de deserções na cúpula militar de Maduro. “Houve rumores semelhantes antes”, relata Bolton, mas o plano humanitário transfronteiriço foi o principal fator para que, desta vez, pudesse ser verdade.”

O governo Trump, com a ajuda do Brasil e da Colômbia, estava pondo em marcha um novo plano de golpe na Venezuela, baseando-se mais em expectativas do que no controle efetivo dos acontecimentos. “Havia também algum sentimento de que deserções dessa magnitude [na cúpula militar] trariam um número significativo de tropas com eles, com as unidades militares aparentemente se movendo em direção às fronteiras, mas depois voltando para Caracas para cercar o Palácio de Miraflores, a Casa Branca da Venezuela.”

“Suprimentos de ajuda vinham sendo construídos há semanas em vários postos de controle em ambas as fronteiras, e comboios adicionais foram preparados para chegar aos postos ao longo do dia, escoltados por voluntários da Colômbia ou do Brasil, para serem recebidos do outro lado por voluntários venezuelanos. Pelo menos esse era o plano.

O sábado 23 de fevereiro amanheceu com multidão na fronteira da Colômbia, e violência na zona limítrofe da Venezuela com o Brasil, no Estado de Roraima, onde vivem os índios Pemones. Eles lutaram contra a Guarda Nacional de Maduro: “Ambos os lados sofreram baixas. Os Pemonessupostamente capturaram 27 guardas, incluindo um general, e queimaram um posto de controle do aeroporto.”

Pouca coisa deu certo — e restrita à zona secundária da operação, a fronteira do Brasil com a Venezuela. A tentativa de golpe “simplesmente fracassou”, resumiu Bolton nas memórias do período. “Fiquei feliz por obter o resultado certo, mas o tempo perdido no debate interno [entre Washington e Caracas] foi equivalente a jogar uma tábua de salvação a Maduro.”

Um mês depois, a Rússia enviou novas tropas e equipamentos à Venezuela, para reforçar a defesa do regime, e “havia fortes indícios de que mais estavam chegando”. De Brasília, porém, Bolton continuava a receber “boas” notícias: “O ministro da Defesa do Brasil, Fernando Azevedo, me dizia que o fim estava próximo para Maduro.”

A aventura desastrada de Trump e Bolton, com a ajuda de Bolsonaro e do presidente colombiano Iván Duque, ainda custa caro aos venezuelanos. No próximo 13 de outubro Maduro completa dez anos no poder. A ditadura continua.

https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/fiasco-de-trump-e-bolton-com-ajuda-de-bolsonaro-salvou-o-ditador-maduro/

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Um general de 20 bilhões de dólares - José Casado (O Globo)

Um general de US$ 20 bilhões

Adido militar é protagonista de um dos maiores escândalos financeiros da década
O Globo, 18/11/2019 - 23:00 / Atualizado em 19/11/2019 - 11:22

Ele passou os últimos cinco anos numa vida discreta, encoberto como diplomata, mantendo quatro mil quilômetros de distância da tragédia humanitária que ajudou a construir no seu país, a Venezuela.
Em Brasília poucos sabem, mas Manuel Antonio Barroso Alberto, 51 anos, adido militar no Brasil da cleptocracia comandada por Nicolás Maduro, é protagonista de um dos maiores escândalos financeiros da década: o sumiço de US$ 20 bilhões (ou R$ 84 bilhões) das reservas cambiais venezuelanas.
A fraude aconteceu no governo Hugo Chávez, entre 2006 e 2013, durante a euforia das exportações de petróleo a preços recorde — o barril chegou a US$ 120. Barroso era coronel e presidia a Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), órgão que autorizava empresas a remeter dólares ao exterior.
Em 2012 o Banco Central venezuelano estimou em US$ 20 bilhões o valor das licenças cambiais “sem justificativa” dadas por Barroso. As “importações fictícias”, via empresas-fantasmas, foram confirmadas pelos ministros Jorge Giordani (Planejamento) e Edmée Betancourt (Indústria e Comércio). Anunciou-se um “rigoroso inquérito”, o ditador Maduro extinguiu o Cadivi, demitiu Barroso, depois o promoveu a general e mandou-o a Brasília como adido militar.
Em Caracas, as investigações continuam interditadas pelo trio que patrocinou a carreira de Barroso, desde a secretaria do falecido Chávez (2001) ao generalato (2015). Por coincidência, são personagens influentes da cleptocracia e que ainda sustentam Maduro no poder: Diosdado Cabello, líder do partido chavista; Vladimir Padrino López, ministro da Defesa; e Jesús Suárez Chourio, comandante do Exército.
Semana passada, Barroso se envolveu num incidente com adversários do regime que tentavam ocupar a embaixada em Brasília. Discreto e com uma vida sem dificuldades financeiras, como os demais diplomatas venezuelanos, o general “Manolo” Barroso guarda a pista de um grande segredo da cleptocracia chavista: a lista dos favorecidos pelo Cadivi com o desaparecimento de US$ 20 bilhões das reservas cambiais da Venezuela.


terça-feira, 25 de junho de 2019

Ainda no capitulo dos Crimes Economicos do lulopetismo - Jose Casado

Essas operações externas não estão erradas apenas porque empréstimos generosos do Brasil a ditaduras corruptas foram concedidos sem garantias reais, mas também porque embutidas nas operações estavam mecanismos de desvios de dinheiro – por superfaturamento na maior parte dos casos – que depois redundavam em "doações legais" ao PT e outras transferências em cash aos dirigentes políticos.
Paulo Roberto de Almeida


Critérios bancários foram manipulados

Foi numa quarta-feira de fevereiro, véspera do carnaval de 2010. Em Brasília, seis ministros se reuniram para referendar uma “decisão de Estado” tomada no Palácio do Planalto. Em pouco mais de meia hora, aprovaram um socorro de US$ 4,9 bilhões a Cuba, o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto do país na época.

Foi uma das maiores operações de “apoio financeiro” a governo estrangeiro com subsídios do Tesouro brasileiro. Da memória desse crédito, restou apenas a ata (Camex/LXX) assinada por ministros do Itamaraty, Planejamento, Indústria e Comércio, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e um representante da Fazenda.

Não existe registro de qualquer fato que motivasse, nem sequer uma justificativa jurídica dessa “decisão de Estado” — concluíram técnicos do Tribunal de Contas da União depois de vasculhar a papelada de seis organismos governamentais envolvidos.

Há outras 140 operações de crédito externo similares, entre 2003 e 2015, em benefício dos governos de Venezuela, Angola, Moçambique, Bolívia e Guiné Equatorial, entre outros. Seguiu-se um padrão: critérios bancários foram manipulados, para “adequar” a capacidade de pagamento dos governos beneficiários; financiamentos concedidos “sem prévios estudos técnicos”, ou quaisquer justificativas jurídicas.

Sempre havia uma empreiteira brasileira interessada, quase sempre a Odebrecht, que na semana passada recebeu proteção judicial contra a cobrança de US$ 26 bilhões em dívidas não pagas — um dos maiores calotes domésticos.

Foram 12 anos de vale-tudo, como ocorreu com os US$ 800 milhões para o Porto de Mariel, em Cuba, erguido pela Odebrecht. O crédito subsidiado brasileiro teve prazo de 25 anos, o dobro do permitido. O governo de Cuba apresentou uma única garantia: papéis (recebíveis) da indústria local de tabaco depositados num banco estatal cubano.

O Brasil deu US$ 4,9 bilhões a Cuba. Financiou até um porto no Caribe e aceitou em caução o caixa da venda de charutos. Acabou sem o dinheiro e sem os “Cohiba Espléndido”, “Montecristo Nº 2”, “Partagás 8-9-8”...
  

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Sindicatos coniventes com os ladroes dos fundos de pensao? - Jose Casado (Globo)

Eis um retrato da República Sindical que assaltou o Brasil e os brasileiros, sobretudo roubando dos trabalhadores.
Paulo Roberto de Almeida 

Frog’, de ‘From Goiás’
José Casado
O Globo, 30/05/2017

É notável o silêncio das entidades sindicais sobre roubos no FGTS e casos como o da JBS, que confessou propina a dirigentes de fundos de pensão para obter US$ 1 bilhão

Era uma ideia bilionária. Só faltava US$ 1 bilhão. Amigos que patrocinava no governo e no Congresso cuidaram para que fosse bem recebido no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, nos fundos de pensão da Petrobras (Petros) e da Caixa (Funcef).
Era simples: o banco e os fundos das estatais pagariam US$ 1 bilhão por 12,9% das ações da sua companhia. Com o dinheiro, fecharia a compra de concorrentes nos Estados Unidos e na Austrália, dispensando bancos privados, que cobravam mais caro. Ganharia imunidade comercial e sanitária mundial, e poderia jogar como dono de um dos dois maiores açougues do planeta.
Em pouco tempo, naquele primeiro semestre de 2008, Joesley Batista avançou no negócio da JBS com BNDES, Petros e Funcef. Deu-lhe o codinonome de “Prot”, abreviatura de proteína. Como seu irmão Wesley dizia, assim era o estilo “Frog” — acrônimo de “From Goiás”.
Na reta final das negociações, foi chamado pelo presidente da fundação da Caixa, Guilherme Lacerda. “Ele disse que eu deveria ter relacionamento próximo com Paulo Ferreira”, contou Joesley a procuradores federais. Ferreira era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Lacerda lembrou-lhe que precisaria do aval dos sindicalistas dirigentes dos fundos das estatais. Eram “indicados por sindicatos” e respondiam ao PT.
Lacerda levou Joesley ao tesoureiro do PT. Ferreira estava de saída do cargo e o apresentou ao sucessor, João Vaccari. Combinaram: “Vaccari recomendaria as operações aos dirigentes sob sua influência, e a gente pagaria ao PT 1% do que conseguisse obter dos fundos.”
Os presidentes dos fundos também queriam. Militantes do PT, Guilherme Lacerda (Funcef) e Wagner Pinheiro (Petros) integravam a burocracia sindical à qual Lula entregara 11 dos 33 ministérios, além de postos-chave nas estatais e respectivos fundos de previdência, em partilha com PMDB , PP e PTB. Joesley contou ter acertado com os presidentes da Funcef e da Petros “1% para cada sobre o valor das operações da JBS com os fundos (das estatais), depois do “Prot’”.
Os irmãos Batista puseram US$ 1 bilhão no bolso e multiplicaram negócios com os fundos das estatais. Lacerda e Pinheiro apostaram US$ 200 milhões da Funcef e da Petros no “Eldorado” de celulose dos Batista, cujo lastro eram fazendas de papel: alguns imóveis só foram comprados quatro anos depois dos aportes dos fundos, superavaliados em até 483%. Um deles é inviável aos eucaliptais, porque fica inundado seis meses por ano.
É notável o silêncio tumular das entidades sindicais sobre episódios como esses e outros casos de roubo a mais de 41 milhões de trabalhadores na última década e meia.
A maioria das vítimas é cotista do Fundo de Garantia — 68% têm renda de um salário. Investigações indicam perdas de 10% dos investimentos do FGTS em negócios suspeitos.
Há, também, 800 mil servidores endividados que ainda são depenados com taxas “extras” sobre empréstimos consignados. Além de 500 mil sócios dos fundos das estatais afanados nas aposentadorias e pensões.
As estranhas transações corroeram em 20 bilhões de dólares o patrimônio da Petros, Previ, Postalis e Funcef. Ontem, por exemplo, Lacerda e outros ex-dirigentes da Funcef se tornaram réus por fraude de 200 milhões de dólares com a empreiteira Engevix, condenada na Lava-Jato.
É eloquente o silêncio sindical.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As oligarquias parlamentares: o mito das 200 familias (que parece verdade) - Jose Casado

A força do sangue

José Casado

O Globo, 12/08/2014

Dos deputados federais com menos de 30 anos, 79% são herdeiros (filhos ou netos) de clãs regionais e estão na disputa eleitoral para perpetuar o poder familiar

Eles somam 52 entre 81 senadores, e 228 dos 513 deputados federais. Juntos, representam 280 votos no plenário do Congresso Nacional. Constituem prova viva da força das relações de sangue na política brasileira.
O predomínio é claro: um de cada dois parlamentares federais eleitos em 2010 tem pais, filhos, irmãos, avôs, tios, primos, sobrinhos, cônjuges, genros, noras ou cunhados em cargos eletivos do Executivo ou dos Legislativos federal, estaduais e municipais.
Na prática, significa que o controle do Estado brasileiro depende do voto majoritário de um “clube” composto por pouco mais de duas centenas de famílias.
Uma das características desse condomínio é a perpetuação no poder. Exemplo: dos deputados federais eleitos há quatro anos, quando estavam com menos de 30 anos de idade, nada menos que 79% eram herdeiros (filhos ou netos) de clãs políticos regionais — quase todos estão nas ruas à caça de votos para a eleição de outubro.
“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos, cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas", constata Lauren Schoenster, pesquisadora da Transparência, que acaba de mapear o poder dos clãs regionais. Um dos efeitos da perpetuação, ela acha, é a formação de uma base parlamentar avessa a mudanças significativas no país.
Sangue é capital político relevante nas urnas. Isso não é produto típico nacional — como demonstraram os Kennedy e seguem mostrando os Bush nos Estados Unidos. Mas o caso brasileiro ganha relevo pela dimensão alcançada na atual temporada eleitoral.
Há dois herdeiros entre os três mais destacados candidatos à Presidência. Aécio Neves (PSDB), com 54 anos, e Eduardo Campos (PSB), com 49, desde o berço aprenderam a cultivar a ambição pelo poder (para conhecê-los, assim como a sua adversária Dilma Rousseff, há um ótimo livro na rede, “Os candidatos", de Maria Cristina Fernandes).
O familismo se espraia pelos estados, onde o repórter Pedro Marcondes de Moura identificou 24 candidatos a governador oriundos de clãs com tradição na política local.
Há casos como o da Paraíba, com 93% da bancada parlamentar federal produzidos em meia dúzia de famílias, lembra Lauren Schoenster. No Rio Grande do Norte, onde 91% dos parlamentares também são herdeiros, há um candidato a governador, Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da Câmara dos Deputados, cuja parentela inclui um ex-governador, um senador, o prefeito da capital, Natal, e o ministro da Previdência Social.
No Acre, a família Viana se reveza há 16 anos e tenta completar duas décadas no poder, com a reeleição do atual governador. Esse clã cresceu com o PT, desde a época em que o partido gritava nas ruas contra as oligarquias. A sedução do poder muda prioridades. O familismo pode e deve ser exaltado “com muito orgulho”, ensinou Lula a Hélder, filho do seu aliado Jader Barbalho, dias atrás, ao lançá-lo candidato a governador do Pará.
Dilma Rousseff ficou “indignada” com a espionagem de que brasileiros como ela foram vítimas recentemente. Aceitou o pedido de desculpas de Obama e fez as pazes com Washington. Agora, diz-se “indignada” com a violação dos direitos civis de jornalistas na guerrilha cibernética executada a partir do palácio que governa. Ao menos por elegância, Dilma deve um pedido de desculpas às vítimas do seu governo.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/a-forca-do-sangue-13568510#ixzz3AF40SHna
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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Brasil gasta dinheiro secretamente com ditaduras - Jose Casado


José Casado
O Globo, 18 de Outubro de 20

Negócios de US$ 6 bilhões mostram como o governo avança, entre o sigilo e o embaraço, nas relações com ditaduras

Os brasileiros estão obrigados a esperar mais 14 anos, ou seja, até 2027 para ter o direito de saber como seu dinheiro foi usado em negócios bilionários e sigilosos com Angola e Cuba.
Pelas estimativas mais conservadoras, o Brasil já deu US$ 6 bilhões em créditos públicos aos governos de Luanda e Havana. Deveriam ser operações comerciais normais, como as realizadas com outros 90 países da África e da América Latina por um agente do Tesouro, o BNDES, que é o principal financiador das exportações brasileiras. No entanto, esses contratos acabaram virando segredo de Estado.


Todos os documentos sobre essas transações (atas, protocolos, pareceres, notas técnicas, memorandos e correspondências) permanecem classificados como “secretos” há 15 meses, por decisão do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, virtual candidato do PT ao governo de Minas Gerais.

É insólito, inédito desde o regime militar, e por isso proliferam dúvidas tanto em instituições empresariais quanto no Congresso — a quem a Constituição atribui o poder de fiscalizar os atos do governo em operações financeiras, e manda “sustar” resoluções que “exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.

Questionado em recente audiência no Senado, o presidente do banco, Luciano Coutinho, esboçou uma defesa hierárquica: “O BNDES não trata essas operações (de exportação) sigilosamente, salvo em casos como esses dois. Por que? Por observância à legislação do país de destino do financiamento.” O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) interveio: “Então, deve o Brasil emprestar dinheiro nessas condições, atendendo às legislações dos países que tomam emprestado, à margem de nossa legislação de transparência absoluta na atividade pública?” O silêncio ecoou no plenário.

Dos US$ 6 bilhões em créditos classificados como “secretos”, supõe-se que a maior fatia (US$ 5 bilhões) esteja destinada ao financiamento de vendas de bens e serviços para Angola, onde três dezenas de empresas brasileiras mantêm operações. Isso deixaria o governo angolano na posição de maior beneficiário do fundo para exportações do BNDES. O restante (US$ 1 bilhão) iria para Cuba, dividido entre exportações (US$ 600 milhões) e ajuda alimentar emergencial (US$ 400 milhões).

O governo Dilma Rousseff avança entre segredos e embaraços nas relações com tiranos como José Eduardo Santos (Angola), os irmãos Castro (Cuba), Robert Mugabe (Zimbabwe), Teodoro Obiang (Guiné Equatorial), Denis Sassou Nguesso (Congo-Brazzaville), Ali Bongo Odimba (Gabão) e Omar al Bashir (Sudão) — este, condenado por genocídio e com prisão pedida à Interpol pelo Tribunal Penal Internacional.

A diferença entre assuntos secretos e embaraçosos, ensinou Winston Churchill, é que uns são perigosos para o país e outros significam desconforto para o governo. Principalmente, durante as temporadas eleitorais.

José Casado é jornalista