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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

OMC condena Brasil por politica automotiva discriminatoria - Jamil Chade (OESP)

O Brasil poderia se passar dessa vergonha de ser condenado na OMC. A culpa não está com o Itamaraty, que hoje precisa suportar -- e essa palavra deve ser carregada ao extremo -- os equívocos tremendos realizados pelos companheiros, que -- eu acuso -- atuaram corruptamente, cometendo crimes econômicos para beneficiar seus aliados do cartel das montadoras (que por acaso financiavam o partido legal e ilegalmente) ao implementar políticas declaradamente e deliberadamente inconsistentes com, e contrárias às regras da OMC.
Lamentável tudo isso.
Paulo Roberto de Almeida


Brasil tenta evitar retaliação na OMC

Com impasse sobre novo regime automotivo, País deve recorrer nesta semana da condenação no órgão e jogar decisão final para 2018
Jamil Chade, correspondente
O Estado de S. Paulo, 25 de setembro de 2017
GENEBRA - Vivendo um impasse que ameaça atrasar o anúncio do novo regime automotivo, o governo deve recorrer nesta semana da decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) que condenou o programas de incentivos fiscais do País, entre eles o Inovar-Auto.
Europa e Japão, que saíram vitoriosos da disputa legal na OMC, colocaram a condenação dos árbitros na agenda de reuniões da entidade da próxima sexta-feira em Genebra. Se aprovada, a decisão passa a valer, dando ao Brasil três meses para retirar todos subsídios e incentivos considerados ilegais.
O governo, porém, já indicou que vai recorrer nos próximos dias, o que jogaria decisão sobre a retirada dos subsídios para 2018. No órgão de apelação da OMC, julgamentos estão levando de 6 a 12 meses para serem considerados.
Na prática, o Brasil ganha tempo para evitar ser retaliado, já que especialistas, e mesmo diplomatas, consideram que seria uma “surpresa” se a instância máxima da OMC anulasse a condenação. O Itamaraty foi derrotado em todos os pontos da queixa dos europeus e japoneses. Se não agir, o Brasil ficaria vulnerável a uma retaliação de dois dos seus principais destinos de exportações.
A decisão de recorrer vem num momento-chave. O Estado revelou em sua edição de domingo que um impasse entre a equipe econômica e o Ministério da Indústria (Mdic) travou as discussões sobre o novo regime automotivo e ameaça atrasar o lançamento do Rota 2030, programa que substituirá o Inovar-Auto. As novas regras precisam estar prontas até 3 de outubro ou não haverá tempo hábil para que a nova política entre em vigor no dia 1.º de janeiro.
Um dos problemas é a resistência da Fazenda e do Planejamento em manter, em meio ao ajuste fiscal, incentivos tributários de R$ 1,5 bilhão ao ano para montadoras. Os técnicos do Mdic acreditam que eles ajudarão a acelerar investimentos.
Também não há consenso sobre quais devem ser as exigências para dar descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Integrantes da equipe econômica afirmam que, da forma como está o programa hoje, o País pode ter problemas novamente na OMC.
Com o novo programa implementado, o governo poderia alegar na OMC que o Inovar-Auto foi reformado e que o caso, portanto, estaria encerrado. A meta seria evitar que europeus e japoneses entrassem com pedido para retaliar o Brasil, o que custaria milhões de dólares à balança comercial do País.
Estratégia. Ao recorrer, o Brasil joga uma decisão final para 2018, na esperança que até lá um novo regime automotivo já esteja em vigor. Ainda na primeira instância, na tentativa de se defender, o Brasil justificou que as medidas de apoio tinham um cunho social, ambiental, de saúde e foram implementadas até mesmo para proteger a “moral pública”.
Entre os programas condenados estão os incentivos fiscais e redução do IPI. Iniciativas que terão de mudar incluem não só o Inovar-Auto, mas também a Lei de Informática, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (Padi), o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para a TV digital (PATVD), além do Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (Recap), que suspende a cobrança de PIS e Cofins para quem exporta.
No total, centenas de empresas nacionais foram beneficiadas por esses programas, entre elas Samarco e Embraer.

sábado, 19 de julho de 2014

O capitalismo de Estado dos companheiros, livro de Sergio Lazzarini e Aldo Musacchio - Rolf Kuntz

O novo capitalismo de Estado - e o do PT
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 19 Julho 2014

Mais uma campeã nutrida com dinheiro público, desta vez R$ 700 milhões de investimento, tenta sair do buraco. Formada em 2010 para ser uma gigante do setor, a LBR Lácteos logo entrou em recuperação judicial. Em mais uma aposta errada, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) participou da aventura com 30,3% do capital. A ex-futura campeã estava nos últimos dias ocupada em levantar R$ 740 milhões com a venda de várias unidades de produção. Era uma tentativa de cumprir o plano oficial de recuperação, segundo noticiou o Valor no começo da semana. Enquanto isso, em Brasília, a oposição batalhava para dar sobrevida a investigações sobre negócios muito estranhos da Petrobrás. Para entender bem os dois casos convém juntá-los na mesma narrativa.

A história é uma só e inclui a escolha de campeões alimentados com dinheiro público, as pressões contra o executivo de uma vitoriosa empresa de mineração, o uso de uma petroleira estatal para projetos políticos e a conversão de bancos públicos em prontos-socorros de grupos escolhidos.

O leitor pode rotular esse conjunto como ciência política, teoria administrativa ou pesquisa econômica. Pode também juntar as três qualificações. Todas se aplicam ao livro dos professores Sérgio Lazzarini, do Insper, e Aldo Musacchio, de Harvard. O recém-editado Reinventing State Capitalism (Reinventando o Capitalismo de Estado) é um estudo sobre um novo tipo de Leviatã econômico, sucessor do velho e bem conhecido Estado empresarial encontrado em todos os cantos do mundo na maior parte do século passado.

O Estado empreendedor funcionou tanto no mundo socialista quanto no lado capitalista. Controlava e administrava empresas como extensões da burocracia pública. Agonizante nos anos 80, esse modelo foi em grande parte substituído por dois novos tipos de Leviatã econômico. O investidor majoritário mantém o papel de acionista controlador, mas o padrão gerencial pode ser muito mais flexível que o anterior. O investidor minoritário passa o controle a investidores privados, mas conserva influência indireta na administração. Este segundo modelo inclui a atuação de bancos de investimento (como o BNDES) e de fundos, como os de pensão.

Para começar, os autores propõem uma tipologia de alcance internacional, explorando exemplos de várias partes do mundo. A exposição percorre tanto países tradicionalmente capitalistas quanto economias em transição. O caso chinês aparece com destaque logo no começo, numa referência ao lançamento inicial de ações do Banco Agrícola da China, em 2010, nas Bolsas de Xangai e de Hong Kong. Ainda oficialmente socialista, a China também participou, e continua participando, da renovação do capitalismo de Estado.

Os autores evitam - de fato, rejeitam - discutir se as empresas vinculadas total ou parcialmente ao Estado são mais ou menos eficientes que as companhias privadas. Mesmo no tempo do Estado empreendedor as comparações seriam inconclusivas, se se tratasse de desempenho em condições normais. Em crises como a dos anos 1980, no entanto, estatais poderiam ter menos liberdade para demitir. Isso ocorreu, de fato, naquele período. Essa limitação afetou seus resultados e uma das consequências foi a redução de investimentos. Quem acompanhou essa experiência ao vivo e em cores deve lembrar-se de mais um detalhe: com o Tesouro quebrado e sem crédito, estatais brasileiras foram usadas para captação de recursos. Apesar do endividamento, os projetos de expansão e de modernização continuaram parados. Por isso muitas estavam financeiramente arrebentadas e tecnicamente atrasadas quando foram levadas à privatização.

A passagem do velho modelo para os novos tipos de capitalismo de Estado é examinada com base na experiência de países de todos os continentes. Apesar do cuidado com as nuances, a tipificação deve aplicar-se às economias desenvolvidas - tão diversas quanto as escandinavas e a americana - e também às emergentes e em desenvolvimento.

Mas depois do cenário mais amplo o foco se estreita e a discussão se concentra no exemplo brasileiro. A história é recontada a partir das privatizações e da adoção dos novos modelos. A mudança do Leviatã empreendedor para os dois novos tipos - o majoritário e o minoritário - abriu a possibilidade, em todos os países, de alterações importantes na condução das empresas. Como exemplos, maior autonomia, maior transparência e maior profissionalismo gerencial no dia a dia e na fixação de objetivos.

No Brasil, boa parte dessas possibilidades ficou inexplorada. Sem avaliações, os dois autores descrevem, com distanciamento acadêmico, as interferências na Petrobrás, a escolha de campeões e os estranhos critérios de financiamento e investimento do BNDES, as tentativas de intervenção na Vale (com a campanha contra o presidente Roger Agnelli) e outros fatos bem conhecidos, mas nunca reunidos e articulados numa pesquisa.

Os autores talvez pudessem, ou devessem, ter incluído na classificação subtipos de capitalismo de Estado, observáveis tanto no velho modelo do Leviatã empreendedor quanto nos casos dos Leviatãs majoritário e minoritário. O exemplo brasileiro a partir de 2003 seria rotulável como capitalismo de Estado dos cumpanhêro. O subtipo incluiria tanto a gestão subordinada a interesses partidários e eleitorais (com as nomeações segundo cotas) quanto a influência das ambições pessoais do governante (quando candidato, por exemplo, a líder regional).

Reinventing State Capitalism (Harvard University Press) é uma bela continuação do trabalho iniciado por Sérgio Lazzarini com seu Capitalismo de Laços - Os Donos do Brasil e suas Conexões, lançado em 2011.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Capitalistas corruptos? Ou doando a corda com que vao ser enforcados? Nao exatamente...

Corruptos, certamente, pois não fariam isso se não esperassem algo em troca, em especial as grandes construtoras.
Idiotas, no entanto, eles não são, mais exatamente não são bobos, e não correm o risco de ser enforcados.
Estamos em face exatamente do mesmo fenômeno já discutido aqui do crony capitalism, ou capitalismo companheiro (vejam um dos posts abaixo), ou seja, a conivência, até criminosa, entre capitalistas corruptos e políticos idem, ou seja, entre membros de duas máfias, organizadas para assaltar a população.
O Partido dos Companheiros, também conhecido como Partido Totalitário, não pretende matar o ganso (ou a gansa) dos ovos de ouro, e sequer pensa em fazer uma revolução, tornar o Brasil socialista, estatizar a produção, como fizeram os idiotas dos bolivarianos chavistas, ou avançar demais na propriedade privada.
O que eles querem é isso mesmo: capitalistas subservientes, para justamente poderem desfrutar das benesses do Estado, realizando grandes lucros às custas da população, e usando uma parte para comprar, retribuir, contentar, continuar corrompendo políticos como esses que estão aí.
Enfim, duas corporações fazendo negócios, em detrimento de toda a população.
Ninguém se espanta com tamanha desfaçatez?
Provavelmente os cidadãos de bem, mas eles parecem estar diminuindo gradualmente, num Brasil altamente corrompido por essas práticas espúrias.
Os capitalistas não se perguntam se toda a classe não estaria melhor se eles tivesse de cuidar apenas de seus negócios, sem essa preocupação de estar indo a Brasília, pedir coisas, e depois ser achacado por um bandido da política, e ter de contribuir, legal e ilegalmente, para essas aves de rapina?
Eles não acham que seria melhor cada um na sua área, e fazendo apenas aquilo que qualquer pessoa honesta precisa fazer? Trabalhar, ganhar dinheiro, enriquecer, contribuir para causas beneméritas, que engrandeçam os seus nomes, sem precisar se prostituir com pessoas que apenas estão querendo viver bem às suas custas, às custas dos esforços empenhados para manter um negócio competitivo?
Ou eles só se mantém nos negócios porque fazem isso, justamente?
Eles só podem sobreviver se comprarem, corromperem, se deixarem extorquir pelos mafiosos no poder?
Que tristeza constatar que o Brasil chegou a esse ponto de degradação moral...
Paulo Roberto de Almeida

Posted: 17 Mar 2014 12:44 PM PDT


As 16 grandes empresas convidadas para almoço com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na 4ª feira passada (12.mar.2014) em Brasília, doaram R$ 88 milhões para candidatos do PT.

Capitalismo corrupto, capitalismo companheiro - The Economist, Mises Institute

A Economist desta semana (15-21 de março) traz em sua capa e como matéria principal uma reflexão sobre o capitalismo corrupto, chamado em inglês de crony capitalism, ou seja, a conivência entre o Estado e políticos e empresários rentistas, rent-seeking, como se diz em inglês.
O termo também pode ser traduzido como capitalismo clientelístico, capitalismo rentista, ou dos amiguinhos (no nosso caso atual, seria "capitalismo dos companheiros", ou seja, os próprios, de um lado, e seus companheiros capitalistas, de outro, que os alimentam, que os financiam, mas que também são devidamente extorquidos pelos companheiros neobolcheviques, e não só durante campanhas eleitorais).
Economist criou um crony-capitalism index, uma tabela baseada numa série de indicadores, ainda não perfeitos, mas aproximativos, na qual o Brasil aparece numa posição deplorável: o 13. pior, entre 23 países. Acredito que se fossem considerados todos os cartéis, monopólios ou todas as políticas públicas efetivamente voltadas para o capitalismo corrupto no Brasil, nossa posição seria ainda pior, sobretudo depois de mais de dez anos de políticas corruptas e práticas mafiosas.
O índice da Economist só considera a proporção da riqueza dos bilionários brasileiros (segundo a lista da Forbes) no PIB nacional, como tendo sido adquirida por meios "companheiros", ou seja concessões e contratos feitos para beneficiar alguma firma, ou um setor inteiro.
Pode-se dizer que toda a política econômica setorial brasileira atual, repito TODA ELA, é construída como uma imensa estrutura baseada no crony capitalism, no clientelismo regulado pelo Estado (no caso pelos companheiros vorazes). 
O assunto merece estudo, e já foi objeto de um livro -- Capitalismo de Laços -- e de alguns trabalhos do Sérgio Lazzarini, que recomendo.
Como estou sempre estudando o fenômeno, acabo de ler um trabalho interessante sobre o caso americano. Todos nós, ou quase todos, considerávamos a construção de ferrovias transcontinentais nos EUA da segunda metade do século XIX como uma brilhante ação estatal e privada, em favor do fortalecimento da economia daquele país. A visão miseniana do processo não concorda com isso, como está exposto abaixo.
Vale a pena ler e refletir. Acho que se aplica, talvez, à transposição das águas do São Francisco atualmente, ou a muitos outros empreendimentos estatais brasileiros.
O Estado brasileiro é o principal criador e alimentador do capitalismo companheiro no Brasil.
Isso precisa parar...
Paulo Roberto de Almeida 


Mises Daily, March 10, 2014

When Barack Obama used the transcontinental railroads as an example of the wonderful things that can be accomplished with grandiose government programs, he was attacked for mistakenly referring to the railroads as “inter continental.” Notably, he was attacked by approximately no one for talking up a government program that in reality should be best remembered as a pioneering feat in government corruption, corporate welfare, and immense waste.
Although not related in quite the heroic terms it once was, the trans­continental railroads retain their place as one of the great alleged suc­cess stories of nineteenth-century America. According to the popular myths, the same myths now exploited by the president, and challenged by no one, the railroads, these supposedly great monuments to the ingenuity of American industrialists, united East and West by bringing together the economies of the West coast and the East coast. This government program then set the stage for the massive economic growth and national greatness that would occur in the United States during the early twentieth century.
And yet, few claims about the necessity or success of the transcontinental railroads are true. While none would argue that transcontinentals would not become economically feasible in the private market at some point, during the 1860s, as the first transcontinentals took shape, there was no economic justification. This is why the first transcontinentals were all creatures, not of capitalism or the private markets, but of government. There simply were not enough people, capital, manufactured goods, or crops between Missouri and the West coast to support a private-sector railroad.
As creatures of government and of taxpayer-funded schemes to subsidize the railroads and their wealthy owners through cheap loans and outright subsidies, the railroads quickly became scandal-ridden, wasteful, and contemptuous of the public they were supposed to serve.
This tale is told in grim detail in historian Richard White’s 2011 tome on the transcontinental railroads, Railroaded: The Transcontinentals and the Making of Modern America, which exposes the near-utter disconnect between the railroads and the true geography of the markets in the mid-nineteenth century.
While it has been long-assumed that the West coast benefited immensely from the transcontinentals that connected the West coast to eastern markets, in fact the overland railroads made little difference. The West coast already had its own economy founded on exports to Europe and Asia, and Californians and Oregonians obtained all the goods they needed by sea. Indeed, for years after their completion, the railroads of the West coast were unable to effectively compete with the steamship operators (many of them also subsidized by Congress) that provided cheaper transportation of goods. Naturally then, this situation degenerated into a political competition between railroads and steamship companies seeking more favorable treatment from the federal government.
In general, however, the economy of the West coast turned to the more efficient and more competitive sea carriers. By the 1860s, the sea carriers were already taking advantage of well-developed trade with the Panama Railroad across Central America, completed in 1855, that was providing true transcontinental shipping at a much lower price over a much shorter overland route.
In spite of massive subsidies and free lands equal in size to New England, the lack of overland trade made it difficult for the railroads to turn a profit, and after a series of bankruptcies, bailouts, and other schemes, railroad owners like Leland Stanford, Thomas Durant, and Jay Gould managed to make a lot of money manipulating federal largesse, but many others, including families and ranchers who followed the flood of money and capital west during the boom, but who found themselves as paupers on the western plains after the bust, were ruined by the railroad’s bubble economy.
With the signing of the first bill to create the transcontinentals in 1862, it was already known that there was no economic justification for the railroads, which is why they were, according to White, “justified on the grounds of military necessity.” Lacking any privately funded-entrepreneurs willing to build a road through more than a thousand miles of territory uninhabited by whites, the 1862 Railroad Act created the Union Pacific, making it the first federally-created corporation since the Bank of the United States. Legal and economic shenanigans ensued, and it would not be until the 1890s that anyone built a privately-funded railroad, the Great Northern Railway.
Indeed, by the 1890s, global progress in technology and technique had greatly reduced the cost of constructing railroads. The benefits of waiting for the private sector to construct railroads when costs and consumer demand made them feasible could have been enormous. The costs of not waiting were indeed huge. The transcontinentals set the stage for the corruption and corporate capitalism that now defines the Gilded Age in the minds of many. While much of the American economy of that era was characterized by very free markets, the railroad markets west of Missouri were anything but. In the end, the railroads constituted a huge transfer of wealth from taxpayers, Indians, Mexicans, and more efficient enterprises who found themselves competing with these subsidized behemoths.
It was the same old story of using the state to socialize costs while privatizing profits. As one opposition Congressman declared in response to the Railroad Bill, the enterprise was “substantially a proposition to build this road ... on Government credit without making [the railroads] the property of the Government when built. If there be profit, the corporations may take it; if there be loss, the Government must bear it.”
Even if presented with this information today, many Americans, both left and right, are likely to just shrug and make the consequentialist argument that the railroads were “worth it” because without them, “America” (whatever that means to the one making the argument) wouldn’t be as “great” (another perfectly malleable term) without the transcontinentals being built by the U.S. government. This enormously presumptuous statement, however, completely ignores the opportunity cost of constructing and financing the railroads in that fashion. What else could have been funded with the resources that went to the railroads during the decades following the American Civil War? We’ll never know.
Yet even during the 1870s and 80s, when it became apparent to many that the railroads were a gargantuan waste of money, and most of the railroad companies were in bankruptcy, the railroad’s supporters claimed that it had all been a great idea because, although the railroads were bankrupt, the railroads themselves were still there, and were now presumed to be an immutable part of the landscape forever available for future Americans. Even that argument held no water, of course, because it turns out that railroads require an enormous amount of upkeep and maintenance. This was especially true of the first transcontinentals which were poorly and cheaply constructed, and which required rebuilding in many places. The railroads were in fact huge white elephants that in many cases could only be maintained with cheap government financing and other forms of corporate welfare.
Interestingly, White, in his conclusions in Railroaded, appears somewhat dismayed at the chaos that reigned among the railroad companies and within the so-called markets that connected the railroads to the farmers, ranchers, and miners who used the railroads for shipping. Lacking the insights of the Austrian School, White fails to see the booms, busts, and waste of the transcontinentals as the natural outcome of a government-dominated market divorced from a functioning consumer market or price system. White’s understanding of economics remains mired in neo-classical assumptions using buzzwords like “competition” and “efficiency” as the most important aspects of markets. In this, White is very much like his nineteenth-century subjects who, we learn from White, were themselves stuck in non-Austrian economic thinking that so often concludes that when markets appear to be broken, they can be fixed by government-mandated competition and government-determined prices that are said to be more “efficient.” The central role of the consumer, so well understood by Austrians, was often ignored by even the most consistent free-marketeer of that time and place.
I’m forced to forgive White for his ignorance of economics, however, for he has done a great service in providing us with such detailed and unvarnished documentation of the crony capitalist world of the transcontinental railroads. Although he’s likely a complete stranger to the works of Bastiat, White concludes that the unseen cost of the transcontinentals is one of the great ignored realities of the railroads. Those who dogmatically defend the government’s transcontinentals, White asserts, need to “escape” thinking that assumes the “inevitability of the present.” Yes, it’s a fact that the government-financed railroads were built, and yes, it’s a fact that American standards of living increased greatly in the decades that followed. The assumed connection between those two events, however, is on far shakier ground, and the assumption that it was right to tax and defraud millions of American taxpayers to make the enormous boondoggle a reality, is on the shakiest ground of all.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Projeto de criacao de uma nova agencia para licitacoes e compras governamentais - ANPT

Projeto de criação de uma Nova Agência Nacional, para racionalizar os procedimentos licitatórios e de compras governamentais: ANPT

 Projeto de Lei

Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Pilantragens e Trambiques – ANPT – com vistas a unificar os procedimentos aplicados a todas as compras governamentais, contratos e outras operações envolvendo recursos públicos, institui um regime especial de controle e manipulação das operações que especifica, estabelece tributação e incentivos específicos, e dá outras providências.

Justificativa:
Ao Congresso Nacional:
Tendo em vista recentes descontroles imprevistos em processos de compras, licitações e contratos governamentais, que redundaram em denúncias indevidas por parte da imprensa, com acusações infundadas a congressistas, funcionários governamentais e militantes partidários, envolvendo inclusive empresários dedicados integralmente à causa do desenvolvimento nacional, sobretudo no setor de infraestrutura rodoviária, e também com vistas a racionalizar os procedimentos licitatórios, agilizar revisões de contratos, bem como implementar novas modalidades de seleção de contratados e eventuais subcontratações autorizadas, faz-se necessária a unificação de todos os procedimentos aplicados aos casos em espécie, ou seja, envolvendo obras públicas, para melhor distribuição dos benefícios e melhor identificação dos beneficiários dessas obras feitas com verbas públicas (ou seja, envolvendo o dinheiro do público).

Projeto:
Art. 1º Fica criada a Agência Nacional de Pilantragens e Trambiques – ANPT –, alternativamente também dedicada a Patifarias e Trapaças (doravante simplesmente referidas como P&T), com poder e jurisdição obrigatórios sobre todos os contratos e licitações dos poderes públicos, mediante o uso de metodologia centralizada, única e transparente (CUT), para melhor administrar o planejamento, atribuição e repartição das dotações orçamentárias que são empregadas em obras públicas de qualquer natureza.
§ 1º Para fins do disposto no caput, todos os projetos de obras públicas, com descrição e justificativa dos valores envolvidos, deverão ser comunicados à ANPT, por expediente enviado com cópia à Casa Civil da Presidência da República, e ainda incluir, não exaustivamente, as seguintes informações:
I - prazo estimado de realização do empreendimento;
II - programação orçamentária dos desembolsos previstos, já incluído o sobre-preço habitual de 25% acima dos montantes usados na concorrência pública;
III – inexistência de vínculos de qualquer espécie entre o ofertante e funcionários da área encarregada das licitações;
IV - prazo de pagamento do empreendimento, inclusive previsão de revisão periódica dos aumentos habituais em obras públicas;
V - comprovação de que o ofertante e promitente realizador do empreendimento possui ativos para remunerar todos os participantes do processo, inclusive intermediários governamentais e partidários; e
VI - procedimento simplificado que demonstre o objetivo de realizar o empreendimento e de utilizar os recursos direcionados aos projetos em causa no menor prazo possível.

Art. 2º O Conselho Nacional de Obras Públicas definirá a lista de obras prioritárias que integrarão a lista anual de projetos a serem controlados pela ANPT.
§ 1º O Conselho Nacional de Obras Públicas (CNOP) será integrado por todos os representantes dos órgão envolvidos nos projetos de obras públicas, com a formação de comissões setoriais para cada um dos domínios reservados e especializados da administração pública; farão parte, ainda, do CNOP, representantes partidários da base de apoio do governo no Congresso e eventuais observadores do mundo empresarial.
§ 2º A Receita Federal do Brasil participará obrigatoriamente de todo e qualquer processo de atribuição de obras públicas, com vistas a antecipar o pagamento dos imposto devidos por ocasião da contratação dos beneficiários contemplados com os empreendimentos, inclusive imposto de renda antecipado sobre os rendimentos previstos no empreendimento. A incidência do imposto sobre a renda, exclusivamente na fonte, será feita de acordo com as seguintes alíquotas:
I - zero por cento, quando auferidos por pessoa física; e
II - quinze por cento, quando auferidos por pessoa jurídica tributada com base no lucro real, presumido ou arbitrado.

Art. 3º A ANPT recolherá, preventivamente, das entidades e instituições autorizadas a operar obras públicas, um percentual variável entre 15% e 25% do montante total da contratação, dependendo dos montantes globais a serem definidos em regulamento ulterior, inclusive um valor proporcional pelas revisões ulteriores dos contratos, com vistas a cumprir as funções institucionais da ANPT, que são controlar, monitorar, contabilizar e operar a redistribuição dos lucros de P&T, de forma homogênea e unificada, de acordo com os melhores procedimentos da CUT, de maneira a garantir o bom funcionalismo do presidencialismo de mensalão, que constitui a base legítima do sistema político brasileiro.
§ 1º Os percentuais estabelecidos acima poderão variar por um fator não superior a 3, dependendo da magnitude da obra pública e das proporções respectivas de financiamento público ou do capital próprio oferecido como garantia pelas empresas empreendedoras.
§ 2º Os cotistas do presidencialismo de mensalão de que trata o caput deste artigo serão catalogados oficialmente desde o momento do registro do empreendimento, e terão participação nos lucros de P&T proporcional à representação geral presente no Congresso Nacional e na base de apoio do governo, o que for maior.
§ 3º O não atendimento por algum cotista do presidencialismo de mensalão de suas obrigações no que se refere ao apoio à agenda governamental implica a exclusão, parcial ou completa, temporária ou definitiva, de qualquer das proporções dispostas no caput deste artigo dos lucros de P&T, tal como recolhidos pela ANPT e redistribuídas segundo os procedimentos adotados nesta MP.

Art. 4º Das sobras dos recursos arrecadados pela ANPT, ou seja, os lucros de P&T, depois das deduções de impostos e da redistribuição entre a base, contratada na origem, no mínimo 50% (cinquenta por cento) será incorporado ao patrimônio da ANPT com vistas à ampliação da base de apoio do governo, de maneira a que o presidencialismo de coalizão possa ser o mais amplo possível. As sobras eventuais da distribuição serão aplicados em ações, debêntures, conversíveis ou não em ações, ou outros títulos de emissão de empresas selecionadas pelo CNOP, com o objetivo de constituir um capitalismo de coalizão, segundo modalidades a serem definidas em regulamento próprio.

Art. 5º Fica instituído o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do Capitalismo de Coalizão – REIDECACO, nos termos e condições estabelecidos em Medida Provisória subsequente.
Parágrafo único. O Poder Executivo regulamentará o regime de que trata o caput.

Art. 6º É objetivo do REIDECACO trabalhar para a implantação de um poderoso sistema capitalista ligado ao Estado e ao presidencialismo de mensalão, de maneira a garantir continuidade dos grandes projetos de transformação social e econômica criados desde a inauguração da nova era.
§ 1º Compete ao CNOP a aprovação, por meio de portarias, dos projetos que se enquadram nas disposições e objetivos do REIDECACO.
§ 2º  As pessoas jurídicas participantes dos projetos administrados pela ANPT serão objeto de tratamento preferencial pela Receita Federal, tanto mais favorável quanto participarem de maneira voluntária para o patrimônio da ANPT, em incentivos e deduções fiscais a serem estabelecidos em Medida Provisória ulterior.

Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Brasil: problemas macroeconomicos e descentralizacao federal - Andre Lara Resende

Acredito que se trata de uma excelente análise dos problemas atuais (e permanentes) da economia brasileira, embora eu tenda a insistir mais em aspectos de políticas econômicas erradas da última década, do que em problemas históricos do capitalismo brasileiro. O patrimonialismo é certamente uma tradição brasileira, desde sempre, mas ele não explica as dificuldades presentes e a letargia no crescimento. Ele apenas explica o grau anormalmente alto de corrupção, de comportamentos rentistas, da roubalheira que caracteriza o Estado brasileiro, dominado por elites predatórias e autistas. Acho que os problemas mais graves estão acontecendo agora, desde que os companheiros assumiram o poder, e começaram a inverter as reformas e as políticas do governo anterior. Não concordo tampouco com o autor em que um novo federalismo, baseado na descentralização, poderá corrigir alguns desses problemas. Como na República Velha, a descentralização elevou ao extremo a irresponsabilidade da classe política, assim como acredito, por exemplo, que o parlamentarismo (e eu sou a favor, em princípio), representaria, no curto e médio prazo, uma exacerbação das piores deformações da política brasileira, com os partidos de ladrões e totalitários dominando os esquemas da governança, para pior.

Enfim, sou pessimista, isso sim, pois não acredito numa correção de nossos problemas mais graves sem uma crise grave, de caráter econômico e político. Sempre é preciso sofrer para empreender grandes reformas.
Paulo Roberto de Almeida  

Capitalismo de Estado patrimonialista

No lugar de insistir numa reforma de cima para baixo, governo deveria voltar à federação, dar autonomia aos Estados e aos municípios em todas suas esferas

O Estado de S.Paulo, 22 de dezembro de 2013 | 2h 04

André Lara Resende
O sentimento em relação ao Brasil no exterior mudou em 2013. O otimismo no País já vinha em queda há algum tempo, mas a percepção externa parece ter finalmente alcançado - e até mesmo ultrapassado - o recente desalento doméstico. A evidente deterioração da situação fiscal brasileira - apesar do uso de todo tipo de manobras contábeis para impedir que a extensão da piora fique clara - é o fator mais preocupante para analistas e investidores estrangeiros. A queda do superávit primário se refletiu num aumento do prêmio de risco, medido pelo seguro financeiro contra a probabilidade de calote - os chamados CDS - da dívida brasileira.
A alta do prêmio de risco, se entendido como a probabilidade de o país vir a ter problema de solvência com sua dívida pública, como ocorreu no passado recente, parece-me despropositado. A dívida em moeda estrangeira, especialmente a dívida pública, é pequena, não passa de 5% do PIB. Mesmo a dívida bruta total, que os truques contábeis têm menos capacidade de maquiar, está entorno de 60% do PIB. É alta, mas está longe de ser preocupante. O prêmio de risco reflete um desconforto mais difuso sobre o futuro do país. Os problemas são muitos, a grande maioria deles não é nova, mas há uma dimensão especialmente grave no atual quadro brasileiro: um Estado despreparado, patrimonialista, com objetivos próprios, dissociados da sociedade.
Desde a estabilidade monetária, o país vinha fazendo avanços sistemáticos na ordenação das finanças públicas. A carga fiscal passou de 25% para 36% do PIB e a dívida pública estava em queda. O processo foi revertido a partir de 2008. É preocupante, mas o problema do Estado brasileiro, hoje, não é de solvência, nem de descontrole macroeconômico, que poderia ser revertido, mas o fato de atuar contra a sociedade, a favor de seus interesses próprios. O custo do Estado está hoje perto de 40% da renda anual, equivalente aos mais altos do mundo, mas seu desempenho é abaixo da crítica.
O papel do Estado sempre foi um tema polêmico. Durante o século 20, tomou contornos ideológicos tão demarcados que praticamente inviabilizou o debate sereno e reacional. Parece inevitável que sociedades maiores e mais complexas sejam mais difíceis de ser administradas, exijam mais das empresas, das instituições e também do Estado. Há uma inexorável correlação entre tamanho e complexidades em toda empreitada humana. O mundo está superpovoado e definitivamente interligado pelo avanço das comunicações e da informática. A questão da escala e da complexidade está em toda parte, mas é ainda mais grave onde é menos reconhecido: na esfera da vida pública. As sociedades modernas se sofisticaram, tornaram-se mais complexas. O Estado foi obrigado a crescer para atender às suas novas funções.
Em livro de 2011, Vito Tanzii faz uma isenta e ponderada análise do inexorável avanço do Estado sobre todas as esferas da vida. O peso do Estado cresceu sistematicamente em toda parte do mundo. A proporção da renda extraída da sociedade pelo Estado, que era geralmente inferior a 10% no início do século 20, dobrou lá pela metade do século, até atingir mais de 40%, neste início de século 21. O avanço foi sistemático, sobretudo a partir da década de 30.
Quando se exige mais do Estado, é razoável que o seu custo suba, mas espera-se que haja alguma correlação entre o custo e o serviço prestado, entre o custo e a qualidade do Estado. Não foi o que ocorreu no Brasil. Ao contrário, a rápida elevação recente da fatia da renda extraída da sociedade não foi acompanhada pelo investimento em infraestrutura. Houve séria deterioração da segurança pública e um dramático aumento da criminalidade. Não houve melhora digna de nota nem na educação, nem na saúde. O saneamento e o transporte público continuam abaixo da crítica.
Notícias recentes indicam que mais de 20% das pessoas - até 50% em alguns Estados - dizem terem sido vítimas de assaltos nos últimos doze meses. O nível de compreensão da língua e da matemática dos alunos brasileiros, segundo resultados recém-divulgados do PISA, exame de avaliação internacional de estudantes conduzido pela OCDE, é deplorável. O Brasil continua entre os últimos colocados, junto com a Albânia, a Tunísia e a Jordânia, muito abaixo do Chile e do México.
O World Economic Forum publica anualmente um índice global de competitividade. O Brasil caiu para o 56.º lugar este ano. Ocupa o 80.º lugar em relação ao funcionamento das instituições e a 124.ª posição em relação à eficiência do governo. A educação está na 121.ª posição e a confiança nos políticos, na 136.ª. Os bolsões de excelência tecnológica e a qualidade do empresariado ocupam a 36.ª e a 39.ª posições. As estatísticas e os rankings apenas confirmam uma realidade perceptível a olho nu: o Estado brasileiro não está à altura do estágio de desenvolvimento do País.
A herança patrimonialista, misturada aos desafios de um país grande e desigual, a meio caminho para o mundo desenvolvido, criou um Estado caro, ineficiente e, sobretudo, disfuncional. Um Estado cujo único objetivo é viabilizar a expansão de seu poder e de suas áreas de influência. Um Estado que cria uma regulamentação kafkiana, com exigências burocráticas cartoriais absurdas, cujo resultado é aumentar custos, reduzir a produtividade e complicar todas as esferas da vida. O patrimonialismo do Estado brasileiro, sua incapacidade de respeitar os limites e os deveres em relação à sociedade, tem longa tradição, mas toma novos contornos com a sofisticação da economia, com a chegada do País à sociedade do espetáculo e à democracia de massas. O uso e o abuso das técnicas publicitárias, a criação de dificuldades de toda ordem para a venda de facilidades, a simbiose com cultura dos direitos especiais adquiridos e a aliança com grupos econômicos selecionados são a nova face do velho patrimonialismo.
Crítica. Diante da polarização do debate, a crítica ao patrimonialismo do Estado tende a ser desqualificada como uma reação conservadora aos avanços da cidadania. Cada uma das dimensões do progresso da cidadania - a civil, a política e a social - enfrentou, a seu tempo, fortes reações ideológicas. O século 18 foi palco da luta pela cidadania civil, pelos direitos de opinião, de expressão e à justiça. No século 19, avançaram os aspectos políticos da cidadania, o direito ao voto e de participação política. Finalmente, no século 20, sobretudo a partir da década de 30, houve o avanço da dimensão social, com a criação dos sistemas de assistência e previdência, de educação e de saúde pública, capazes de garantir um padrão de vida mínimo para o exercício das demais dimensões da cidadania.
Adotado depois da grande crise do capitalismo do início dos anos 30 do século 20, o Estado Assistencialista foi uma forma de aliviar as pressões sociais e o apelo do comunismo marxista, mas nunca deixou de enfrentar resistência. Resistência que encontrou na teoria econômica um poderoso aliado. A economia sempre teve um de seus pilares na tese de que os mercados competitivos tendem ao equilíbrio eficiente. O mercado competitivo é uma construção intelectual, uma referência importante para a alocação eficiente de recursos, mas a polarização ideológica levou a uma inferência indevida: a de que toda interferência governamental sobre o livre mercado seria contraproducente.
Com a vitória incontestável dos direitos sociais, a teoria econômica paga até hoje o preço político de ser percebida como intrinsecamente conservadora. Toda crítica à falta de critérios e à ineficiência do gasto público, sobretudo se embalado como gasto social, é tachada de reacionária e desconsiderada. No Brasil de hoje, o velho patrimonialismo do Estado se esconde por trás do assistencialismo. O patrimonialismo indefensável reveste-se de assistencialismo inatacável. Desde que sob o guarda-chuva de gasto social, toda sorte de abuso patrimonialista não admite questionamento.
A divisão do trabalho, o comércio internacional e os mercados são poderosos estímulos à criação de riqueza, mas dependem de leis, instituições e do Estado inteligentemente organizado. A complexidade do mundo contemporâneo exige do Estado ainda mais do que suas funções clássicas. As modernas sociedades democráticas requerem, necessariamente, algum tipo de assistencialismo distributivista, o que exige a coordenação do Estado. O desafio é ter um Estado competente, que contribua para uma sociedade melhor e cujos serviços justifiquem seu custo.
Um seminário recente, em Viena, em homenagem a Peter Drucker, reuniu expoentes da administração para discutir o tema da complexidade no mundo contemporâneo. Concordaram que a gestão dos negócios está mais complicada do que jamais foi e que a capacidade de lidar com a complexidade é prioridade na agenda dos empresários. Como em todas as outras esferas da vida contemporânea, os homens de negócios são confrontados com muito mais de tudo a todo tempo.
Duas linhas alternativas de interpretação se delinearam. A primeira é de que é preciso simplificar, concentrar em alguns poucos objetivos, dar às empresas um foco e uma direção para os que nela trabalham, ainda que por imposição, de cima para baixo. A segunda interpretação sustenta que a maior complexidade é apenas uma nova ordem, que exige a revisão do modo de se administrar. A revolução das comunicações e da informática tornou obsoleta a administração linear, de comando e controle, que deve ser substituída por uma nova, baseada em redes espontâneas de módulos autônomos. O mundo contemporâneo é não linear e as empresas, assim como as demais instituições, ainda não se adaptaram a essa não linearidade. O caminho a ser seguido é reconhecer a nova ordem e não insistir na tradicional gestão de comando e controle, pois é a imposição de um estilo anacrônico de gestão que é contraproducente na complexidade contemporânea.
As duas interpretações exprimem as alternativas para se lidar com a complexidade contemporânea, não apenas na vida empresarial, mas também na vida pública. A opção por simplificar, ainda que de cima para baixo, por concentrar em alguns objetivos claros e dar uma direção para o país, tem enorme apelo diante das dificuldades da democracia representativa. O encanto provocado pelo novo capitalismo de estado chinês é exemplo do apelo da simplificação autoritária. Como demonstrou a experiência soviética, é sempre possível acelerar o crescimento por meio da mobilização centralizada de poupança e do investimento estatal, com base em grandes planos, formulados a partir de um "projeto nacional" definido pelo Estado. A estratégia demonstrou ser bem-sucedida para as economias de baixa renda, onde as taxas de poupança e investimento são limitadas pelas necessidades básicas de consumo. Enquanto se percorre caminhos tecnológicos conhecidos, é possível acelerar autoritariamente o crescimento, mas quando a economia se aproxima da fronteira tecnológica, a estratégia do planejamento estatal deixa de obter resultados.
Tendo aprendido as lições do fracasso do planejamento central soviético, o capitalismo de estado chinês compreendeu que não poderia prescindir dos mercados. Usa as companhias estatais para garantir investimentos nos setores considerados estratégicos e utiliza empresas privadas escolhidas para dominar os mercados. Os resultados foram extraordinários, mas as tensões e desafios têm aumentado. Embora a China tenha dado sinais de que pode vir a aumentar o papel dos mercados, é pouco provável que a flexibilização mude a essência do modelo. Seu objetivo é manter o poder político concentrado na mão do Estado e a maximizar a probabilidade de perpetuação do governo.
Há uma diferença fundamental entre o Brasil e a China. A China tem uma tradição milenar de autoritarismo burocrático competente. O custo do Estado é menos de 30% renda e está em queda. Já a participação do Estado no investimento, na chamada formação bruta de capital fixo, é de 21% do PIB. Ou seja, só o investimento direto do Estado chinês é uma proporção maior da renda nacional do que todo o investimento brasileiro, público, privado e estrangeiro, que não chega a 19% do PIB. Na China, o Estado é competente, custa pouco e investe muito. No Brasil, o Estado é caro e incompetente, não investe, nem cumpre suas funções básicas.
É questionável se o investimento estatal direto ainda seria capaz de fazer a diferença e acelerar o crescimento no Brasil. O modelo foi adotado por aqui durante o regime militar. Depois de reformas modernizadoras, inteligentemente concebidas e adotadas com competência, as taxas de crescimento atingiram níveis de até dois dígitos, durante o chamado "milagre econômico", da primeira metade da década de 70. O seu esgotamento, a partir da década de 80, deixou um triste legado: o Estado deficitário e endividado, as empresas estatais esclerosadas e duas décadas de estagnação sob o signo da inflação crônica.
Modelo. Na última década, o Brasil se beneficiou do ganho nas relações de troca com o exterior. A alta dos preços dos produtos primários, provocada pela demanda da China, significou uma expressiva transferência de renda para o Brasil. Os governos do PT foram suficientemente inteligentes para manter as bases da política macroeconômica, mas passaram a desmontar as reformas que viabilizaram a estabilidade monetária. O processo se acelerou a partir da crise de 2008. Aparelharam o Estado, criaram novas estatais e elegeram parceiros privados incompetentes. Com a desculpa de praticar uma politica anticíclica, expandiram o gasto corrente do governo, mas não investiram em infraestrutura. O resultado é conhecido: baixa produtividade, uma economia que não cresce e contas públicas que se deterioram.
Não é possível saber se o capitalismo de estado chinês continuará bem-sucedido, mas uma coisa é certa: o capitalismo chinês requer um Estado competente e autoritário. No Brasil, não temos a requerida competência, nem desejamos - quero crer - o autoritarismo. Diante da complexidade do mundo contemporâneo, a tentação da solução autoritária estará sempre presente, mas o caminho mais promissor é o da alternativa delineada na conferência de Viena: não insistir na tradicional gestão centralizada, de comando e controle, mas avançar na descentralização. Um Estado autoritário e patrimonialista, sustentado pela demagogia, o marketing e a intimidação, onde apenas as aparências democráticas são respeitadas, é o caminho mais rápido para volta ao subdesenvolvimento. A fórmula, como demonstra sua aplicação na Argentina e em outros países vizinhos, é devastadora.
Não há como bem governar com o Estado disfuncional. A primeira tarefa de quem pretende fazer um bom governo será a de reconstruir o Estado. No lugar de insistir numa reforma de cima para baixo, de comando e controle, deveríamos experimentar a descentralização. Deveríamos voltar à federação, dar autonomia aos Estados e aos municípios em todas suas esferas, desde a fiscal, até a segurança, a saúde e a educação. Como escreveu Hirschman, no prefácio da edição alemã do seu Exit, Voice and Loyality: "Assim como os economistas, com a ênfase nas virtudes da competição (i.e. da 'saída'), não deram atenção à contribuição da 'voz', os cientistas políticos, com seu interesse na participação política e no protesto, negligenciaram o possível papel da 'saída' na análise do comportamento político." Tenho a impressão de que mais possibilidade da opção de "saída" em relação à "voz", isto é, de ter a opção de se mudar ao invés de protestar, é mais importante do que nunca, num mundo complexo e interligado.
Os mercados não são milagrosos, mas um pouco de competição no sistema político, sob o guarda-chuva de uma verdadeira federação, pode ser a única forma de viabilizar a complexidade contemporânea com a democracia e a existência de Estados eficientes e com mais respeito pelos contribuintes.
ECONOMISTA E EX-PRESIDENTE DO BNDES

sábado, 21 de dezembro de 2013

Capitalismo companheiro e companheiros capitalistas

Banco do Brasil

Teto de aposentadoria causa racha no comando da Previ

Agência do banco do Brasil
Agência do banco do Brasil (Eladio Machado)
A fixação de um teto para as aposentadorias da Previ provocou uma divisão interna no comando do fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. Os representantes dos funcionários, pensionistas e aposentados no conselho deliberativo - órgão máximo de decisão - registraram na última ata de reunião que apoiam a "urgente necessidade da implementação das decisões" do órgão regulador dos fundos de pensão (Previc) para evitar sanções.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que três dos seis conselheiros pediram que o tema da fixação do teto fosse colocado em pauta neste mês, mas o presidente do conselho, Robson Rocha, vice-presidente de gestão de pessoas do BB, recusou o pedido. O argumento para essa negativa é que qualquer alteração regulamentar só pode ser aprovada com manifestação favorável do patrocinador (BB).
O posicionamento do banco pode ser tomado antes ou depois da decisão do conselho deliberativo da Previ. "Uma vez declarada posição desfavorável do patrocinador para alteração regulamentar, torna-se inviável eventual modificação pretendida nos regulamentos de benefícios da Previ", registram na ata os conselheiros indicados pelo banco.
Eleição - A oposição entre os conselheiros eleitos e os indicados pelo banco sobre o tema fica mais evidente à medida que se aproxima o período de eleições para a diretoria e conselhos da Previ, marcadas para março. Metade da diretoria e do conselho deliberativo é indicada pelo BB; a outra precisa ser eleita. A Previ é sócia das maiores empresas com capital aberto no país.
Críticas - O Estado teve acesso a um texto de críticas que os conselheiros eleitos ameaçam publicar, caso o teto não seja colocado em prática. Nele, afirmam que a direção do BB e a diretoria executiva da Previ estão expondo o fundo previdenciário a risco e que a atitude das duas instituições "peca pela falta de isonomia, para dizer o mínimo".
"O BB confundiu o dever de agir (implantar o teto) com o direito de dispor de algo (reservas dos participantes) em benefício de um pequeno grupo, exatamente os responsáveis pela implantação ou não implantação do teto", diz o texto.
Eles ainda argumentam que os demais participantes do fundo com benefício definido podem abrir processos judiciais pedindo equiparação no tratamento. "Com os documentos disponíveis, duvidamos que a Justiça negará a concessão aos participantes que assim o requererem (e que ao final seriam todos)".
(Com Estadão Conteúdo)