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quarta-feira, 29 de abril de 2020

A arte da diplomacia e da negociação como fundamentos das relações internacionais - Paulo Roberto de Almeida

Não costumo, a não ser que eu seja obrigado a fazê-lo, ler textos em palestras, aliás nem em aulas magnas, pois esse nome não me impressiona muito, e creio que leituras monótonas costumam ter virtudes dormitivas.
Prefiro falar livremente, o que me permite inovar no desenvolvimento dos meus argumentos em face de uma audiência que pode ter outros estímulos do que palestras ex-cathedra.
Mas, sempre quando tenho algum convite para uma palestra, costumo escrever algumas notas, rascunhos, ou até trabalhos formais, como referência de base ou texto de apoio do que pretendo abordar ou desenvolver no evento, mas deixando, portanto, algo formal para a audiência visada e para o meu próprio registro formal da participação nessa atividade.
Esses textos escritos são geralmente oferecidos antes da palestra, seminário, exposição ou qualquer outro evento que requer uma intervenção minha. 
O ideal é que possam ler, entender, despertar curiosidade sobre algum dos argumentos – o que nem sempre é possível no imediato da hora, e nem sempre se pode anotar as minhas palavras.
Esta é a razão de escrever e de circular antes temas "parecidos" aos argumentos que pretendo abordar, ou o que foi solicitado pelos organizadores.
Acabo de redigir este texto, que não vou ler nesta "aula magna" deste dia 30/04.

3656. “A arte da diplomacia e da negociação como fundamentos das relações internacionais”, Brasília, 29 abril 2020, 14 p. Texto de apoio para uma aula magna no curso de Relações Internacionais da Universidade Salvador (BA), a convite do Prof. Felippe Ramos, no dia 30/04/2020, 19hs, via online (?). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42893937/A_arte_da_diplomacia_e_da_negociacao_como_fundamentos_das_relacoes_internacionais_2020_)

A arte da diplomacia e da negociação como fundamentos das relações internacionais

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: Notas para aula magna no curso de Relações Internacionais da Universidade Salvador (BA), no dia 30/04/2020; finalidade: informação preliminar aos alunos]


Sumário: 
1. A maneira antiga das artes da negociação
2. A maneira moderna de fazer diplomacia
3. Desafios das relações internacionais na globalização e na desglobalização
4. Mudanças na geopolítica e na geoeconomia mundiais decorrentes da pandemia
5. O desaparecimento do Brasil dos radares da globalização e da racionalidade

Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/42893937/A_arte_da_diplomacia_e_da_negociacao_como_fundamentos_das_relacoes_internacionais_2020_


sábado, 16 de março de 2019

Chanceler anti-economico: uma aula não recomendada - Vinicius Torres Freire

Eu costumo colocar neste blog coisas inteligentes para pessoas inteligentes.
É o caso do artigo deste jornalista econômico.
Mas certamente não é o caso do objeto de seu artigo, uma aula inédita, dita “magna”, mas que não merece sequer o epíteto de mínima, surrealista, do atual chanceler, aos pobres estudantes do Instituto Rio Branco, que tiveram de sofrer por duas horas ataques insanos de “irrealismo mistificador” por parte de quem, supostamente deveria lhes ensinar a pensar sobre o Brasil e sua diplomacia.
O quadro é deveras assustador.
Fiquei sem palavras para descrever o que assisti, depois de 2 horas de surpresas desagradáveis.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de março de 2019

Artigo de Vinicius Torres Freire na Folha de S. Paulo (15/03/2019), a propósito da aula mínima do chanceler atual.


Quem quer comprar a nossa alma

Ministro cria teoria biruta do comércio para justificar nova ideologia do Itamaraty

A China passou a ser o maior parceiro comercial do Brasil e, “por coincidência ou não, tem sido um período de estagnação do Brasil”.
De qualquer modo, ainda que queiramos vender soja e ferro aos chineses, não o faremos em troca da nossa alma.
Essa teoria geral impressionista estocástica dos efeitos do comércio no crescimento econômico foi apresentada por Ernesto Araújo aos novos estudantes do Instituto Rio Branco.
Araújo ocupa a cadeira de ministro das Relações Exteriores e, pelo jeito, a cátedra de economia sideral do Itamaraty.
Segundo Araújo, o Brasil era o país que mais crescia no mundo quando “seu principal parceiro de desenvolvimento eram os Estados Unidos”. “Parceiro de desenvolvimento” é, digamos, uma expressão mais sentimental, mas suponha-se, por paralelismo, que o diplomata ainda tratasse de exportações.
É verdade. Nos quinquênios de crescimento mais rápido da história do Brasil, 1957-61 e 1969-73, o principal destino das nossas vendas externas eram os Estados Unidos. Mas, como nos casamentos antigos, que o diplomata deve prezar, os americanos estiveram conosco na saúde e na doença. Ainda eram nossos principais fregueses no pior quinquênio do crescimento brasileiro, 1989-92.
Mas esses argumentos e contra-argumentos são birutas. Pelo método da associação livre comercial, é possível chegar a outras conclusões, “coincidência ou não”.
Nos anos JK, nossos principais produtos de exportação eram café (56% do total), açúcar, algodão e minérios, pauta quase idêntica à dos anos 1870, no Império da escravidão e do atraso, período que marcou tão fundo a nossa alma (ou o caráter nacional brasileiro?), tema caro ao diplomata.
O Brasil “estagnou quando desprezou essa parceria com os Estados Unidos” e procurou alianças com Europa, a integração latino-americana e o mundo pós-americano dos Brics”, discursou Araújo. Hum.
Ainda pelo método da associação livre, é possível pensar que a nossa fase chinesa esteve associada ao período de crescimento mais rápido desde a ditadura, os anos Lula 2. Foi então que a China se tornou o principal freguês das nossas exportações, ultrapassando Estados Unidos e Argentina.
Foi também então que as compras chinesas de soja e ferro, de comida e matérias-primas em geral, aqui e alhures, elevaram preços de produtos brasileiros, com o que o Brasil pagou sua eterna dívida externa e deixou de padecer de crises cambiais, crônicas desde a Independência (sim, 1822). 
Nesses mesmos anos Lula 2, porém, o governo do Brasil passou a arrebentar as contas domésticas, um dos motivos dessa ruína.
Mas, repita-se, isso não é maneira de pensar comércio exterior e desenvolvimento, é apenas pensamento mágico, em parte tão ideológico quanto o de algumas variantes de “marxismo cultural”, como aqueles de linha desenvolvimentista mais desvairada ou atrasada.
O Brasil é uma ilhota nas flutuações da divisão internacional do trabalho, com certas vantagens comparadas e lá não muito capaz de criar vantagens novas ou tidas como relevantes, o que talvez modificasse a inserção do país no comércio internacional. 
Por falar nisso, há alguma controvérsia se é relevante ou producente tentar forçar a barra a fim de alterar a “complexidade” das nossas exportações (para a maioria dos economistas padrão, não é).

Mas essa é outra conversa, ainda no universo da razão, do realismo e do pragmatismo nas relações internacionais, econômicas ou quaisquer.  









Artigo protegido contra cópia, acessável no link seguinte:  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2019/03/quem-quer-comprar-a-nossa-alma.shtml

Quem quiser assistir à aula mínima, pode fazê-lo num destes links que eu informei em postagem do último dia 14:
Se por acaso o URL do vídeo original da Aula Magna: 
          https://www.youtube.com/watch?v=0Qt1kCY7D0M
for descontinuado, por razões de edição, por exemplo, eu preservei o vídeo da gravação direta em meu próprio canal no YouTube, neste link: 
         https://youtu.be/qXD0khwGdzc 

Aproveitem, pois não haverá novas palestras como esta, pelo menos não tão sincera e tão verdadeiramente representativa do personagem.


O jornal O Estado de São Paulo fez um editorial sobre um dos temas da aula, que ele chamou de "Diplomacia medíocre":
 https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,diplomacia-mediocre,70002754642
Coloquei também em meu site: 
https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/diplomacia-mediocre-editorial-do-jornal.html
e em meu Facebook: 
https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2360298620700241

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14 de março de 2019 




quarta-feira, 13 de março de 2019

Aula magna do ministro Ernesto Araujo aos novos diplomatas do Instituto Rio Branco

Aula magna do ministro Ernesto Araújo aos novos diplomatas do Instituto Rio Branco


Ainda estou tentando entender...
https://www.youtube.com/watch?v=0Qt1kCY7D0M

Dois trechos: 

Nunca Antes na Diplomacia: este era o título de meu livro de 2014, sobre os anos bizarros do lulopetismo. 
Acho que vou ter de revisar esse título, ou pelo menos o julgamento...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de março de 2019

terça-feira, 12 de março de 2019

A insercao internacional do Brasil: Aula Magna no CEDIN-BH, 11/03/2019 - Paulo R. de Almeida

Uma aula magna que apresentei no CEDIN em BH: 
3415. “A inserção internacional do Brasil: desafios estruturais e limites políticos”, Brasília, 24 fevereiro 2019, 66 slides. Notas e estatísticas para Aula Magna no curso de Estudos Diplomáticos do CEDIN, em 11 de março de 2019. Postado em formato pdf no meu DropBox particular (link: https://www.dropbox.com/s/fnzy138ss0m0zbu/3415AulaMagnaCEDIN.pdf?dl=0 ).
PS: Eu havia postado na plataforma Academia.edu (12/03/2019; link: http://www.academia.edu/38533927/3415AulaMagnaCEDIN.pptx), mas os limites dessa plataforma não permitiram a inclusão do arquivo, muito pesado.



A inserção internacional do Brasil: desafios estruturais e limites políticos

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: notas para desenvolvimento oral; finalidade: Aula Magna no CEDIN-BH]


1. Evidências prima facie
Constatação: O Brasil é um dos países mais fechados do mundo, em termos de participação do comércio exterior na formação do PIB; ele é, com toda evidência, o mais fechado do G-20. Trata-se propriamente de uma aberração: uma das dez maiores economias do planeta, mas um peso médio no comércio internacional. Ficamos aquém da metade da média mundial do coeficiente de abertura externa.
Imperativo: A função básica de toda e qualquer diplomacia é conectar o país ao mundo, da maneira mais ampla possível. Uma diplomacia que vise manter o país fechado aos intercâmbios globais é, por definição, uma anti-diplomacia, uma contradição nos termos. Seria a diplomacia brasileira responsável pela constatação?
Conclusão: O Brasil tem vivido esse paradoxo durante a maior parte de sua história, o que é propriamente surpreendente. Como explicar esse fato surpreendente em face de uma diplomacia supostamente de alta qualidade? Seria ela deficiente?

2. O problema básico da inserção internacional do Brasil
Atenuação: Na verdade, a diplomacia brasileira não tem atuado para manter o Brasil como um país fechado. Ela apenas segue os instintos mercantilistas da maior parte do dirigentes políticos nos últimos 180 anos, pelo menos. Ela cumpre instruções de elites econômicas renitentemente protecionistas e orgulhosas de sê-lo. Com isso ela contribui para a concentração de renda num país já altamente desigual.
Ideologia da diplomacia: Ela é a obsessão pelo desenvolvimento nacional, o que é compreensível do ponto de vista da consciência sobre o atraso da industrialização do país, mas que se torna mais problemática no contexto do nacionalismo exacerbado no qual vivem os brasileiros: amamos o capital estrangeiro (e dele temos necessidade), mas detestamos o capitalista estrangeiro, aquele que vem junto com o investimento direto; daí sempre buscamos sempre mais capitais de empréstimo do que o IDE.
Desafio: como fazer para inserir o Brasil no mundo, de forma bem mais ativa e consequente? O que a diplomacia brasileira poderia fazer para tal objetivo? Quais são os obstáculos estruturais e os limites políticos a tal empreendimento? Estes são os desafios que caberia abordar nesta Aula Magna.

3. Um pouco de história
Um velho trauma: O Brasil nasceu sob o impacto dos dois tratados desiguais de 1810, impostos a D. João pelos britânicos numa situação de fragilidade fundamental. Um deles era de defesa, o que se compreende no contexto dos conflitos napoleônicos. O segundo era de comércio e navegação, e se compunha tanto da tarifa preferencial de 15% – mais alta do que a aplicada aos produtos portugueses – quanto do mecanismo da extraterritorialidade, aliás presente desde muito tempo nas relações bilaterais Portugal-Grã-Bretanha, e em várias outros experimentos do imperialismo europeu igualmente.
Libertação comercial: Depois de muitos clamores internos, especialmente nas regências, a tarifa inglesa e a extraterritorialidade foram finalmente abolidas em 1844. Desde então, o Brasil perseguiu objetivos eminentemente protecionistas, na verdade mercantilistas, herdados desde sempre, e especialmente sob o pombalismo. Companhias de comércio, concessões exclusivas, monopólios sancionados pela Coroa. Tudo legal.
Fragilidade fiscal e proteção tarifária: Durante grande parte do Império e no início da República, as preocupações das autoridades econômicas eram bem de mais de natureza fiscal – assegurar receitas para o Estado – do que propriamente protecionistas, ou seja, uma tarifa hamiltoniana para favorecer a indústria infante, quando na verdade simplesmente não havia indústria nenhuma a proteger. Tratava-se de arrecadar o máximo para o Estado, inclusive mediante impostos de exportação. Na República, esses impostos de exportação passaram à competência dos estados, antigas províncias.
A indústria infante entra em campo: Mas, desde cedo se aprendeu a defender a indústria infante, um argumento à la List, importado de Hamilton, e aperfeiçoado pela “escola econômica americana”, declaradamente protecionista e orgulhosa de sê-lo. O Brasil, que já tinha poucos estadistas verdadeiramente liberais, logo se dobrou a esse tipo de argumento. Bastiat nunca teve muitos seguidores entre nós...
Lei do Similar Nacional: no Império ela já existia sob diversas formas, não sistematizadas num instrumento único, mas se expressava em tarifas diferenciadas. Havia também algum mimetismo das antigas Leis de Navegação na proibição do transporte de cabotagem por navios estrangeiros e na criação do Lloyd Brasileiro. Durou do século XIX até o governo Collor, e continuou na Constituição de 1988.

4. Um pouco de evidências empíricas
 (segue no arquivo completo, postado em formato pdf no meu DropBox particular (link: 
https://www.dropbox.com/s/fnzy138ss0m0zbu/3415AulaMagnaCEDIN.pdf?dl=0 ).

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de fevereiro de 2019